terça-feira, 16 de junho de 2009

A MISSA E A MORTE V

A acção de graças

Enfim, cada qual deveria fazer de sua morte ― em união com Nosso Senhor e a Virgem Maria ― um sacrifício de acção de graças, por todos os benefícios recebidos desde o baptismo, rememorando quantas absolvições e comunhões nos remiram ou guardaram no caminho da salvação.
Jesus fizera de Sua morte um sacrifício de acção de graças, ao dizer: “Consummatum est ― Está consumado” (Jo 19, 30); Maria disse o “Consummatum est” junto com Ele. Tal forma de oração ― que permanece na missa ― não acabará, ainda que à última missa a ser dita, ao fim do mundo. Quando não houver mais sacrifício propriamente dito, haverá sua consumação, e nela haverá sempre a adoração e a acção de graças dos eleitos que, unidos ao Salvador e a Maria, entoarão o Sanctus ao lado dos anjos e glorificarão a Deus, louvando-O.
Essa acção de graças é admiravelmente expressa pelas palavras do ritual que o padre prolata à cabeceira dos moribundos, após dar-lhes a derradeira absolvição e o santo viático: “Proficiscere, anima christiana, de hoc mundo...: Saí deste mundo, alma cristã, em o nome de Deus Todo-Poderoso, Que vos criou; em o nome de Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, Que sofreu por vós; em o nome da gloriosa e santa Mãe de Deus, a Virgem Maria; em o nome do bem-aventurado José, seu esposo predestinado; em o nome dos Anjos e Arcanjos; em o nome dos Patriarcas, dos Profetas, dos Apóstolos, dos Mártires; em o nome de todos os Santos e Santas de Deus. Que ainda hoje vossa habitação seja na paz, e vossa morada na Jerusalém celeste, por Jesus Cristo Senhor Nosso”.
Concluindo: repitamos frequentemente ― a fim de rebrilhar-lhe o valor ― o ato recomendado por S. S. [São] Pio X, e roguemos a Maria a graça de fazer de nossa morte um sacrifício de adoração, de reparação, de suplicação e de acção de graças. Quando assistirmos os moribundos, exortemo-los ao sacrifício, a associar-se às missas que então se celebrem. E desde agora, por antecipação, façamo-lo nós mesmos, renovemo-lo com insistência a cada dia, como se fosse o último; desta feita, dispor-nos-emos a fazê-lo habilmente ao momento supremo: então saberemos que “Deus conduz a profundos abismos e deles tira”; nossa morte será como que transfigurada; apelaremos ao Salvador e a Sua Santa Mãe para que nos venha levar, concedendo-nos a graça derradeira, que nos assegurará definitivamente a salvação, através de um último ato de fé, de confiança e de amor.

Garrigou-Lagrange: La vie spirituelle nº 194, nov. 1935

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