sexta-feira, 18 de maio de 2018


TRATADO DO PURGATÓRIO

 de Santa Catarina de Génova


INTRODUCÇÃO

Esta alma santa ainda em sua carne foi transportada ao purgatório do ardente amor de Deus. Ele a queimou toda e purificou-a do que tinha que purificar, para que no final desta vida pudesse ser apresentada ao olhar de Deus o seu doce amor.
Por meio deste amor ardente, ela compreendia nela mesma em que estado estão no purgatório as almas dos crentes para serem purificadas de toda a espécie de ferrugem e mancha de pecado ainda não apagado durante esta vida.
Ela mesma, estabelecida no purgatório do fogo divino do amor, permanecia unida ao seu amor divino, satisfeita com tudo o que ele operava nela; entendendo que assim era com as almas que estão no purgatório, ela dizia:

1. Perfeita conformidade das almas do Purgatório com a vontade de Deus.


As almas que estão no purgatório, segundo me parece compreender, não podem ter nenhuma outra escolha a não ser de estar nesse lugar. Isto acontece pela disposição de Deus. Não podem essas almas voltar-se sobre si mesmas, nem dizer: “Eu cometi esses pecados, pelos quais mereço estar aqui”. Nem pode dizer: “Quisera não tê-los cometido, porque agora estaria no paraíso”. Nem sequer exclamar: “Esta alma sairá daqui antes de mim, ou, sairei antes dela”?
Não podem ter lembrança de si mesmas nem dos outros (de bem ou de mal) que possam causar-lhe maior aflição da que já têm. Ao contrário, tem tal contentamento de se encontrarem na disposição e do que Deus nelas realiza quanto quer e como quer que não podem pensar em ter pena maior para si mesmas.
Vêem somente as operações da divina bondade que, com tanta misericórdia, conduzem o homem para Deus: Por isso, não podem ver nem os sofrimentos, nem os bens que possam acontecer ao homem como coisa dele. Se pudessem ver isto, não estariam em caridade pura. Não podem ver que estão nestas penas por seus pecados nem podem ter esta ideia na mente, porque isso seria uma imperfeição activa, a qual não pode existir nesse lugar, porque actualmente não se pode ali pecar.
A causa de estarem no purgatório, essas almas a vêem uma só vez, quando passam desta vida. Já não podem vê-la mais, pois, caso contrário, haveria uma posse. Portanto, estando essas almas em caridade e, não podendo desviar-se dela com nenhum defeito actual, não podem querer nem desejar senão o puro querer da pura caridade. Estando no fogo do purgatório, estão dentro da disposição divina, a qual é caridade pura, e não podem desviar-se o mínimo em nenhuma outra coisa, porque estão também igualmente impossibilitadas de pecar como de merecer.


VISÕES E INSTRUÇÕES

Santa Ângela de Foligno



ANGELA DE FOLIGNO

Eu — diz Ângela de Foligno — ao entrar no caminho da penitência, fiz dezoito passos antes de conhecer a imperfeição da vida.

PRIMEIRO PASSO

Ângela toma consciência dos seus pecados

Olhei pela primeira vez os meus pecados e compreendi-os: a minha alma ficou atemorizada e tremeu por causa da danação, e chorei, chorei muito.

SEGUNDO PASSO

A CONFISSÃO

Então corei pela primeira vez, e tal foi minha vergonha, que recuei diante da confissão. Não me confessei, não ousava confessar, e fui à mesa sagrada, e foi com os meus pecados que recebi o corpo de Jesus Cristo. É por isso que dia e noite a minha consciência continuava a repreender-me. Eu implorei São Francisco para me encontrar o confessor que eu precisava, alguém que pudesse entender e a quem eu pudesse falar. Na mesma noite, o “velhote” me apareceu. “Minha irmã”, disse ele, “se me tivesses chamado antes, eu te teria ouvido mais cedo. O que pedes está feito.”
No dia seguinte, encontrei na igreja de São Feliciano, um frade que pregava.
Depois do sermão, resolvi confessar-me a ele. Confessei-me plenamente e recebi a absolvição. Não senti amor; apenas amargura, vergonha e dor.

TERCEIRO PASSO

A SATISFACÃO

Perseverei na penitência que me foi imposta; procurei satisfazer a justiça, vazia de qualquer consolação, pena ou dor.

QUARTO PASSO

CONSIDERAÇÃO DA MISERICÓRDIA

Lancei um primeiro olhar sobre à misericórdia divina; conheci aquela que me tirara do inferno, como aquela que me deu a graça que conto. Recebi a sua primeira iluminação; a dor e os prantos redobraram. Entreguei-me a uma severa penitência; mas não quero dizer qual.

quinta-feira, 14 de março de 2013

SOBRE A IGREJA


A Igreja é Santa! É Santa e santificadora! Apesar dos pecados de seus filhos!

Mas como entender o paradoxo desta santidade?

1. A IGREJA É SANTA

A Igreja é santa! As palavras de São Paulo não nos permitem duvidar: “Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do baptismo, em virtude da palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e imaculada” (Efésios 5,25-27). Se dizemos que a palavra de Jesus Cristo é eficaz e efectiva em tudo o que diz (e, por isso, se Ele diz: “Isto é o meu Corpo”, esse pão já não é pão mas o seu Corpo), quanto mais efectivos não serão os seus actos e o seu sacrifício! Ele se entregou por ela (=a Igreja) para santificá-la! Portanto, ela é santa porque o sacrifício de Cristo é eficaz.
“A Igreja é, aos olhos da fé, indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, a quem com o Pai e o Espírito Santo é proclamado ‘o único Santo’ amou à Igreja como sua esposa, entregando-se a Si mesmo por ela para santificá-la (cf. Ef. 5,25-26), a uniu a Si como seu próprio Corpo e a enriqueceu com o dom do Espírito Santo para a glória de Deus”[1].

A Igreja é duplamente santa:

a) É santa, em primeiro lugar, porque ela é o próprio Deus santificando os homens em Cristo por seu Espírito Santo. Dizia Pio XII: “Esta piedosa mãe brilha sem mancha alguma em seus sacramentos, com que alimenta seus filhos; na fé, que sempre conserva incontaminada; nas santíssimas leis, com que obriga a todos; nos conselhos evangélicos com que adverte; e, finalmente, nos dons celestiais e carismas, com os quais, inesgotável em sua fecundidade, dá à luz a incontáveis exércitos de mártires, virgens e confessores”[2].
Esta é santidade “ objectiva” da Igreja. Ela é um canal inesgotável de santidade porque nela Deus coloca à disposição dos homens os grandes meios de santidade:
Seus tesouros espirituais – os Sacramentos – entre os quais o principal é o próprio Cristo sacramentado, fonte de toda santidade.
Sua doutrina santa e imaculada, que finca suas raízes no Evangelho.
Suas leis e conselhos, que são prescrições e convites à santidade.
O Sangue de Cristo tornado bebida quotidiana do cristão.
A misericórdia do perdão oferecido sacramentalmente aos pecadores.

b) Em segundo lugar, a Igreja é santa porque ela é a humanidade em vias de santificação por Deus. Este é o aspecto complementar do item anterior, ou seja, a santidade “subjectiva” da Igreja.
Os canais de santidade são derramados sobre os filhos da Igreja e, se não sobre todos, pelo menos sobre muitos produz verdadeiros frutos de santidade. Ela é o seio que incessantemente gera frutos de santidade.
Voltaire, apesar de seu ódio contra a Igreja, reconhecia: “Nenhum sábio teve a menor influência nos costumes na rua em que morava; porém, Jesus Cristo influi sobre todo o mundo”. Essa influência são os santos. Quanta diferença entre os frutos “naturais” do Paganismo e os do Cristianismo! Quando a Igreja gera filhos nas águas do baptismo, os dá à luz com gérmenes de graça e santidade, os quais, quando os homens não colocam obstáculos, crescem e dão ao mundo extraordinárias obras de caridade. Por isso, a Igreja, desde seu início na Jerusalém dos Apóstolos, começou a popular o mundo com:

Jovens virgens, testemunhas da pureza.
Mártires da fé.
Missionários e apóstolos.
Ermitães e monges penitentes.
Incansáveis operários da caridade, que consagraram suas vidas aos enfermos, aos pobres, aos famintos, aos abandonados…
Seus filhos inventaram os hospitais, leprosários, asilos…

Na Antiguidade contava-se a história de Cornélia, a mãe dos Gregos, filha de Escipião Magno, a qual vendo uma de suas amigas fazendo ostentação de suas jóias, com um gesto apontou para os seus filhos – futuros heróis de Roma – e disse-lhe: “Estes são os meus ornamentos e as minhas jóias!”. Com quanta razão mais a Igreja pode dizer ao mundo, apontando para os santos de todos os tempos: “Estes são as minhas jóias!”
E apenas isto já fala da santidade da Igreja, pois para fazer um só santo é necessário um poder divino, já que apenas a graça do Espírito Santo pode santificar um homem. E a Igreja não deixa de ter santos nem quando os horizontes são os mais sombrios!

Três sinais, entre muitos outros – dizia Journet – tornam visível esta santidade da Igreja:

1º) Ela é uma voz que não deixa de proclamar ao mundo as grandezas de Deus. Essa constância em proclamar e cantar as maravilhas de Deus é a sua razão de ser. Encontramos a Igreja ali onde escutamos sem cessar cantar as maravilhas de Deus, defender Sua honra dos erros do mundo, dar testemunho de Sua grandeza e Sua misericórdia para com os homens.

2º) Ela é uma “sede inextinguível” de unir-se a Deus. A Igreja está onde suspiram todos os que esperam a manifestação do Rosto de Deus, os que esperam a vinda de Cristo, os que não se apegam a este mundo e suspiram por uma pátria melhor, os que se sentem como os desterrados filhos de Eva.

3º) Ela é um zelo insaciável por dar Deus aos homens. A encontramos ali onde, com infatigável ardor, existe um verdadeiro cristão que trabalha pela conversão dos pecadores, por fazer que os ignorantes conheçam a Deus, por levar o Evangelho aos que ainda não o ouviram…
Porém…

2) NEM TUDO É SANTO NA IGREJA

A Igreja é santa e santificadora, porém, muitos dos seus filhos são pecadores e a Igreja, consciente disso, não os exclui de seu seio, salvo em casos extremos. Dizia Pio XII: “Que todos aborreçam o pecado. Porém, quem pecou e não se tornou indigno, por sua contumácia, da comunhão dos fiéis, seja acolhido com amor… Pois mais vale, como adverte o Bispo de Hipona, ‘ser curado permanecendo no corpo da Igreja, do que serem cortados dela como membros incuráveis. Porque não é desesperada a cura daquilo que ainda está unido ao corpo, enquanto que, tendo sido amputado, já não pode ser curado nem sanado’”[3].
Os pecadores são membros da Igreja, mas não o são no mesmo grau nem do mesmo modo que o justo; e assim é rigorosamente exacto o que disse o Cardeal Journet: quanto mais se peca, menos se pertence à Igreja. Por isso, a maioria dos autores é categórica em afirmar que é inconcebível uma Igreja integrada exclusivamente por pecadores.
Se os pecadores são membros da Igreja, o são não em razão dos seus pecados, mas por causa dos valores espirituais que subsistem neles e em cuja virtude, todavia, permanece viva de alguma forma: valores espirituais pessoais (fé e esperança teologais informes, caracteres sacramentais, aceitação da hierarquia etc.), aos quais é preciso acrescentar os impulsos interiores do Espírito Santo e a influência da comunidade cristã que os envolve e arrasta em seu seio, tal como uma mão paralisada, que nada pode fazer por si, ainda assim participa de todos os deslocamentos e mudanças de toda a pessoa humana.
E podemos prosseguir dizendo que, apesar dos pecadores, a Igreja é santa e imaculada? Sim! A Igreja continua sendo a Igreja dos Santos, apesar do pecado e inclusive em seus membros pecadores. Como isto pode ser possível? Porque, assim como a santidade é uma realidade da Igreja e que, como tal, não está só na Igreja mas também procede da Igreja, o pecado não é uma realidade “da Igreja”; mesmo quando o pecado estiver na Igreja, não procede dela, precisamente por ser o ato com que alguém nega a influência da Igreja.
Mais ainda: à medida em que aceita permanecer na Igreja santificadora, mesmo que seja apenas por fé e sem caridade, esta (=a Igreja) o ajuda em sua luta contra o pecado. Por isso, Journet dizia: “A Igreja carrega, dentro de seu coração, Cristo lutando contra Belial”.
Por isso, o pecado não pode impedir que a Igreja seja santa, mas pode impedir que seja tão santa quanto deveria! Dizia Santo Ambrósio: “Não nela, mas em nós é ferida a Igreja. Vigiemos, pois, para que a nossa falta não constitua uma ferida para a Igreja”[4].
Assim, então, concluía o Cardeal Journet: “A Igreja divide em nós o bem e o mal. Fica com o bem e deixa o mal… [A Igreja] não está livre de pecadores, mas está sem pecado. Por isso, não é pecadora nem pode pedir perdão por seus pecados. Pede, ao contrário, perdão para os pecados de seus filhos e por isso ‘a Igreja [é] santa e, por sua vez, necessitada da purificação’ em seus filhos”[5].
Monsenhor Tihamer Toth dizia: “A Igreja somos nós: eu, tu, nós, todos… e quanto mais bela é a nossa alma, mais [bela a Igreja]”.
E outro autor pôde escrever: “A Igreja é um mistério: tem sua cabeça oculta no céu, sua visibilidade não a manifesta mais do que de um modo sumamente inadequado; se procurais o que a representa sem traí-La, contemplai ao Papa e ao Episcopado, que nos ensinam nas coisas de fé e costumes; contemplai aos seus santos no céu e na terra; não vos fixeis em nós, pecadores. Ou melhor: vede como a Igreja cura as nossas chagas e nos conduz com dificuldades à vida eterna… A grande glória da Igreja é constituída pelo fato de ser santa com membros pecadores”[6].

Rui Manuel Tapadinhas Alves


[1] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 39.
[2] Encíclica Mystici Corporis, nº 30.
[3] Idem, nº 10.
[4] De Virginitate 8,48; PL 16,278-D.
[5] Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 8.
[6] J. Maritain. Religião e Cultura. Paris, 1930, p.60.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O AMOR DE DEUS POR NÓS


“Eu conheço a tua miséria”

Ser amado significa imensas coisas, mas basta-nos isto, para já: é ser desejado, querido, acolhido e escolhido, aceite e respeitado, cada um como é, com todas as suas qualidades e com todos os seus defeitos ou misérias. Deus acolhe cada um assim mesmo, como é, e não como deveria ser, pois o que cada um devia ser, mas não é, nem sequer existe, a não ser na imaginação. Deus não ama o que não existe. Se Deus amasse esse ser ideal, perfeito, criava-o porque, para Deus, amar e criar são acções simultâneas. Só existe de facto, a realidade do que cada um é, hoje, aqui e agora, com as suas grandezas e misérias. É a esse homem real que Deus ama, respeita, acolhe e escolhe, com predilecções que a nossa inteligência não pode sequer entender. A consciência de se ser amado por Deus, vai ganhando corpo quando se insiste na oração, tenha ela a forma que tiver, e na contemplação silenciosa da vida de Jesus Cristo. Deus também pede a cada um que O ame, como é, na realidade, e não como deveria ser. O preceito: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente» (Mt 22, 37. Deus ama, respeita, acolhe, entende e não condena o pecador de mãos vazias. A melhor atitude como ponto de partida, é a de tomar consciência dessa verdade, sem susto, e a de se deixar amar por Deus, não por merecer esse amor, mas porque o seu amor é gratuito. Jesus Cristo revela ao mundo que Deus é amor, não à maneira dos amores humanos, que desconhecem e estranham, muitas vezes, o gesto gratuito, mas em totalidade. Deus não ama ninguém por ele ser bom, por ser bonito ou por ser agradável, ou por apresentar uma folha de serviços impecável. Deus não tem razões fora d’Ele próprio, para amar. O Seu amor não é motivado por razões que lhe venham de fora. Ama porque é amor. Assim, também não há razões que O desmotivem. Uma razão que poderia desmotivá-Lo, se emprestássemos a Deus os nossos pequenos critérios, seria o pecado. Para nós de facto, uma ofensa, uma calúnia, um ódio, uma fraude, são razões mais do que suficientes para desmotivar o amor, ou mesmo para criar o desamor. Jesus Cristo veio dizer-nos que Deus não é assim. A ofensa neste caso, o pecado, não O desmotiva; muito pelo contrário, centra de tal maneira no pecador e em todos os outros, as suas razões para agir que, esquecido de si, entra no mundo do pecado, dá a vida pelos que pecam e pede o perdão para os que O matam. Só neste contexto se pode ouvir da boca de Jesus, o mandamento desconcertante para o sentir comum dos mortais: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mt 6, 44).
O Senhor diz-nos: «Eu, teu Deus, conheço a tua miséria, os combates e as tribulações da tua alma, a fraqueza e as enfermidades do teu corpo; Conheço a tua frouxidão, os teus pecados, as tuas falhas; mesmo assim, eu te digo: ‘Dá-me o teu coração, ama-Me como és’. Se esperas ser um anjo para te entregares ao amor, nunca Me amarás. Embora, tornes a cair muitas vezes nessas falhas que desejarias nunca conhecer, embora, sejas indolente na prática da virtude, não te permito que não ames. Ama-Me como és. Em cada instante e em qualquer situação em que te encontres, no fervor ou na aridez, na fidelidade ou na infidelidade, ama-Me tal como és. Quero o amor do teu coração indigente. Se, para Me amares, esperas ser perfeito, nunca Me amarás. Meu filho, deixa-Me amar-te, Eu quero o teu coração» …

Moisés Oliveira

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

OS SETE SACRAMENTOS



Acerca dos Sacramentos


O Espírito Santo cura e transforma aqueles que os recebem

Muitos católicos possuem dúvidas de fé, mesmo entre os mais inseridos em diversas pastorais. Diante desta realidade o Papa Bento XVI tem se pronunciado constantemente sobre a importância do estudo do Catecismo da Igreja Católica (CIC) para o revigoramento dos conteúdos fundamentais da fé. Prova disso é a Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Porta Fidei, na qual o Santo Padre proclamou que a partir de 11 de outubro a Igreja viverá o “Ano da Fé”.
O Sumo Pontífice afirma, nesta carta, que no ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé e de formação dos cristãos neste tempo tão complexo. Certamente, o conhecimento da fé leva a uma vivência mais autêntica dos sacramentos e aproxima o homem dos mistérios de Cristo.
Mas o que são sacramentos? Quais são eles? Qual é a relação entre sacramento e fé? Por que eles são eficazes? O que é a graça sacramental? E outras perguntas deste género a respeito do sacramento são constantes na vida do cristão.
Fundamentado no Catecismo da Igreja Católica encontramos tais respostas que seguramente contribuem não apenas para o conhecimento intelectual, mas, sobretudo para a intimidade com Cristo, razão única da vivência da fé. Os parágrafos 1113 a 1134 são dedicados ao Ministério Pascal nos Sacramentos da Igreja.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que os sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida divina. São sete os sacramentos: Baptismo, Confirmação – Crisma, Eucaristia, Penitência – Confissão, Unção dos enfermos, Ordem e Matrimónio.
Os sacramentos são necessários para a salvação, porque conferem as graças sacramentais como o perdão dos pecados, a adopção de filhos de Deus, a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja. O Espírito Santo cura e transforma aqueles que os [sacramentos] recebem. Estes sinais Cristo confiou à sua Igreja, portanto, os sacramentos são da Igreja, sendo acção de Cristo, e a edificando. Eles são eficazes porque é Cristo que neles age e comunica a graça que significam, independentemente da santidade pessoal do ministro, ainda que os frutos dos sacramentos dependam também das disposições de quem os recebe. Existe uma relação íntima entre os sacramentos e a fé, estes não apenas supõem a fé como também, por meio das palavras e elementos rituais, a alimentam, fortificam e exprimem. Ao celebrá-los, a Igreja confessa a fé apostólica, isto é, a Igreja crê no que reza.
Portanto, os sacramentos possuem um selo espiritual de protecção divina, configurando o cristão a Cristo, sendo, pois, consagrado ao culto divino e ao serviço da Igreja. Enfim, neles há uma graça do Espírito Santo, dada por Cristo e própria de cada sacramento. Essa graça ajuda o fiel no seu caminho de santidade, bem como no crescimento da caridade e do testemunho. Dessa forma, o mergulho profundo no mistério dos sacramentos, por intermédio do conhecimento da fé, conduz o cristão ao próprio Cristo.

1. O SACRAMENTO DO BATISMO

Nele o homem une-se a Cristo

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina que os sacramentos são um encontro pessoal com Cristo, este encontro é, no fundo, o sacramento original, eles são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida divina. São sete os sacramentos: baptismo, confirmação – crisma, Eucaristia, penitência – confissão, unção dos enfermos, ordem e matrimónio, todos eles estão ordenados para a Eucaristia, como para o seu fim, segundo santo Tomás de Aquino.
A partir do CIC os sacramentos são categorizados em três formas. 1) Sacramentos da iniciação cristã (baptismo, confirmação – crisma e Eucaristia); 2) Sacramentos de cura (penitência – confissão, unção dos enfermos); 3) Sacramentos a serviço da comunhão e da missão (ordem e matrimónio).
Os sacramentos de iniciação cristã lançam os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo baptismo, são fortalecidos pela confirmação e alimentados pela Eucaristia. O primeiro dos sacramentos de iniciação cristã é o baptismo, ele é o caminho do reino da morte para a vida, a porta da Igreja e o começo de uma comunhão duradoura com Deus. Nesse sacramento o homem une-se a Cristo, pois ele é uma aliança com Deus, e a condição prévia para receber os outros.
No Antigo Testamento encontram-se várias prefigurações do baptismo: a água, fonte de vida e de morte; a arca de Noé, que salva por meio da água; a passagem do Mar Vermelho, que liberta Israel da escravidão do Egipto; a travessia do Jordão, que introduz Israel na Terra Prometida, imagem da vida eterna. O próprio Jesus Cristo se fez baptizar por João Batista, no Jordão: na cruz, do seu lado trespassado, derramou Sangue e Água, sinais do baptismo e da Eucaristia, e depois da Ressurreição confia aos apóstolos esta missão: «Ide e ensinai todos os povos, baptizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19-20). A Igreja, desde o dia de Pentecostes, administra o baptismo a quem crê em Jesus Cristo.
Baptizar significa imergir na água. O baptizando é imerso ou aspergido na morte de Cristo e ressurge com Ele como nova criatura (2Cor 5,17). Por isso este [baptismo] também é chamado banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo (cf. Tt 3,5) e iluminação, porque o baptizado se torna filho da luz (cf. Ef 5, 8). Porque tendo nascido com o pecado original, ele tem necessidade de ser libertado do poder do maligno e de ser transferido para o reino da liberdade dos filhos de Deus.
Entre os efeitos do baptismo se destacam o perdão do pecado original e de todos os pecados pessoais e as penas devidas ao pecado, fazendo o homem participar na vida divina trinitária mediante a graça santificante, confere as virtudes teologais – fé, esperança, caridade e os dons do Espírito Santo. Por fim, o baptizado pertence para sempre a Cristo.
O rito essencial deste sacramento consiste em imergir na água o candidato ou em derramar a água sobre a sua cabeça, enquanto é invocado o Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, sendo capaz de receber o baptismo toda pessoa ainda não baptizada. Do baptizando é exigida a profissão de fé, expressa pessoalmente no caso do adulto, ou então por parte dos pais e da Igreja no caso da criança. Também o padrinho ou madrinha e toda a comunidade eclesial têm uma parte de responsabilidade nisso. Sendo ele necessário para a salvação daqueles a quem foi anunciado o Evangelho e que têm a possibilidade de pedir este sacramento.
Aqueles que morrerem sem o baptismo, o Catecismo da Igreja Católica ensina que, porque Cristo morreu para a salvação de todos, podem ser salvos, mesmo sem o baptismo, aqueles que morreram por causa da fé (baptismo de sangue), aqueles que estavam sendo preparados para receber tal sacramento – catecúmenos e todos os que, sob o impulso da graça, sem conhecer Cristo e a Igreja, procuram sinceramente a Deus e se esforçam por cumprir a Sua vontade (baptismo de desejo). Quanto às crianças, mortas sem baptismo, a Igreja na sua liturgia confia-as à misericórdia de Deus.
Portanto, dentre os sacramentos de iniciação cristã, destaca-se o baptismo como o primeiro, a porta da Igreja e o começo de uma comunhão duradoura com Deus, lançando o alicerce da vida cristã, configurando o cristão a Cristo, sendo assim, no baptismo, o homem para sempre pertence a Cristo.

2. O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO – CRISMA

Nele recebemos a efusão do Espírito Santo

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a Confirmação – Crisma, pertence, juntamente com o Baptismo e a Eucaristia, aos três sacramentos da iniciação cristã da Igreja Católica. Nesse sacramento, tal como ocorreu no Pentecostes, o Paráclito desceu sobre a comunidade dos discípulos, então reunida. Também nele o Espírito Santo desce em cada baptizado que pede à Igreja o dom d’Ele [Espírito Santo], dessa forma o sacramento encoraja o fiel e o fortalece para uma vida de testemunho de amor a Cristo.
A Confirmação é o sacramento que completa o Baptismo e pelo qual recebemos o dom do Espírito Santo. Quem se decide livremente por uma vida como filho de Deus e pede o Espírito de Deus, sob o sinal da imposição das mãos e da unção do óleo do Crisma, obtém a força para testemunhar o amor e o poder de Deus com palavras e actos. Essa pessoa agora é membro legítimo e responsável da Igreja Católica.
Chama-se Crisma (nas Igrejas Orientais: Crismação com o Santo Myron) por causa do rito essencial que é a unção. Chama-se Confirmação, porque confirma e reforça a graça baptismal. O óleo do Crisma é composto de óleo de oliveira (azeite) perfumado com resina balsâmica. Na manhã da Quinta-feira Santa, o bispo consagra-o para ser utilizado no Baptismo, na Confirmação, na Ordenação dos sacerdotes e dos bispos e na consagração dos altares e dos sinos. O óleo representa a alegria, a força e a saúde. Quem é ungido com o Crisma deve difundir o bom perfume de Cristo (cf. II Cor 2,15).
O efeito da Confirmação é a efusão especial do Espírito Santo, como no Pentecostes. Tal efusão imprime na alma um carácter indelével e traz consigo um crescimento da graça baptismal: enraíza mais profundamente na filiação divina; une mais firmemente a Cristo e à sua Igreja; revigora na alma os dons do Espírito Santo; dá uma força especial para testemunhar a fé cristã.
O YOUCAT – Catecismo Jovem da Igreja Católica, afirma que: Ser Confirmado – Crismado significa fazer um acordo com Deus. O confirmado diz: sim, eu creio em Ti, meu Deus, dá-me o Teu Espírito para que eu te pertença totalmente, nunca me separa de Ti e te testemunhe com o corpo e com a alma, durante toda a minha vida, em obras e palavras, em bons e maus dias! E Deus diz: sim, Eu também creio em ti, Meu filho, e te darei o Meu espírito e até a mim mesmo, pertencer-te-ei totalmente, nunca me separarei de ti, nesta e na vida eterna, estarei no teu corpo e na tua alma, nas tuas obras e nas tuas palavras mesmo que me esqueças, estarei sempre aqui, em bons e maus dias.
Pode e deve receber este sacramento, qualquer cristão católico que tenha recebido o sacramento do Baptismo e esteja em estado de graça, isto é não ter cometido nenhum pecado mortal (pecado grave). Mediante um pecado grave separamos de Deus e só podemos reconciliar com Ele através do sacramento da Penitência – Confissão.
O sacramento da Confirmação normalmente é presidido pelo Bispo, por razões pastorais, o bispo pode incumbir determinado sacerdote de celebrá-lo. No rito litúrgico da Santa Missa do Crisma o Bispo dá ao crismando um suave sopro para que lembre-se que está se tornando um soldado de Cristo, afim de perseverar com bravura na fidelidade ao Senhor.
Portanto este belíssimo sacramento Confirmação completa o Baptismo, por ele o fiel recebe o dom do Espírito Santo, faz um acordo com Deus, e assim, cheios dos dons do Espírito é chamado a testemunhar o amor ao Senhor, se preciso for, a dá a vida uma vez que recebeu uma força especial para seguir Cristo até o fim de sua vida.

3. O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

Ela é a fonte e o centro de toda a vida cristã

Continuando a reflexão sobre os sacramentos, ensinados pelo Catecismo da Igreja Católica, chegamos à Sagrada Eucaristia, esta que, juntamente com o Baptismo e a Confirmação, faz parte do sacramento de iniciação cristã. Ela que é o misterioso centro de todos estes sacramentos. Portanto, ela é a fonte e o centro de toda a vida cristã.
Esse sacramento é conhecido por diversos nomes, como: Eucaristia, Santa Missa, Ceia do Senhor, Fracção do pão, Celebração Eucarística, Memorial da Paixão, da Morte e da Ressurreição do Senhor, Santo Sacrifício, Santa e Divina Liturgia, Santos Mistérios, Santíssimo Sacramento do altar, Santa Comunhão.
Originalmente a Sagrada Eucaristia era a oração de acção de graças da Igreja primitiva, precedia a consagração do pão e do vinho, posteriormente a palavra foi conferida a toda a celebração da Santa Missa. A Sagrada Eucaristia é o sacramento em que Jesus entrega o Seu Corpo e o Seu Sangue – Ele próprio, por nós, para que também nos entreguemos a Ele em amor e nos unamos a Ele na Sagrada Comunhão. É o próprio sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele instituiu para perpetuar o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até o Seu regresso, confiando assim à Sua Igreja o memorial da Sua Morte e Ressurreição. É o sinal da unidade, o vínculo da caridade, o banquete pascal, em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da vida eterna.
Sendo, portanto, a Eucaristia um memorial no sentido que torna presente e actual o sacrifício que Cristo ofereceu ao Pai, uma vez por todas, na cruz, em favor da humanidade. O caráter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição dela: “Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós” e “este cálice é a nova aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós” (Lc 22,19-20). O sacrifício da cruz e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício. Idênticos são a vítima e Aquele que oferece, diverso é só o modo de oferecer-se: cruento na cruz, incruento na Eucaristia.
A Igreja participa do Sacrifício Eucarístico de forma directa, pois, na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos membros do Seu Corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração, o seu trabalho são unidos aos de Cristo. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida por todos os fiéis vivos e defuntos em reparação dos pecados de todos os homens e para obter de Deus benefícios espirituais e temporais. A Igreja do céu está unida também à oferta de Cristo.
Jesus Cristo está presente na Eucaristia de um modo único e incomparável. De fato, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o Seu Corpo e o Seu Sangue, com a Sua Alma e a Sua Divindade. Nela está presente em modo sacramental, isto é, sob as Espécies Eucarísticas do pão e do vinho, Cristo completo: Deus e homem.
O cristão é chamado, desta forma, a adorar a Eucaristia, por isso a Igreja conserva com a maior diligência as Hóstias Consagradas, leva-as aos enfermos e às pessoas impossibilitadas de participar da Santa Missa, apresenta-as à solene adoração dos fiéis, leva-as em procissão e convida à visita frequente e à adoração do Santíssimo Sacramento conservado no tabernáculo. A Igreja obriga os fiéis a participar da Santa Missa aos domingos e nas festas de preceito, e recomenda a participação dela também nos outros dias. Da mesma forma, a Igreja recomenda aos fiéis que participam da Santa Missa que também recebam, com as devidas disposições, a Sagrada Comunhão, prescrevendo a obrigação de recebê-la ao menos na Páscoa.
Porém, para receber a Sagrada Comunhão é preciso estar plenamente incorporado à Igreja Católica e em estado de graça, isto é, sem consciência de pecado mortal. Quem tem consciência de ter cometido pecado grave deve receber o sacramento da reconciliação antes da Comunhão. São também importantes o espírito de recolhimento e de oração, a observância do jejum prescrito pela Igreja e ainda a atitude corporal (gestos, trajes), como sinal de respeito para com Cristo.
Os frutos da sagrada Comunhão são diversos; ela aumenta a nossa união com Cristo e com a Sua Igreja, conserva e renova a vida da graça recebida no baptismo e no crisma, e faz-nos crescer no amor para com o próximo. Fortalecendo-nos na caridade, perdoa os pecados veniais e preserva-nos dos pecados mortais, no futuro.
Por fim, a Eucaristia nos enche das graças e bênçãos do céu, fortalece-nos para a peregrinação desta vida, faz-nos desejar a vida eterna, unindo-nos desde já a Cristo, sentado à direita do Pai, à Igreja do Céu, a Santíssima Virgem e a todos os santos. A Sagrada Eucaristia é de tal forma a vida dos cristãos que Santo Tomás de Aquino afirmou que ela possui, no fundo, o efeito da transformação do ser humano em Deus, e Santo Inácio de Antioquia ensinou que, nela [Eucaristia], partimos o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrermos e, dessa forma, vivermos eternamente em Jesus Cristo. Portanto, o sacrifício de Jesus na cruz torna-se presente durante a consagração do pão e do vinho, ou seja, na Eucaristia, desta forma, os mistérios da Eucaristia são os mistérios do próprio Cristo. Este é um grande dom da nossa fé: crer que, na Eucaristia, Jesus se faz presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

4. O SACRAMENTO DA CONFISSÃO

Ao se confessar o homem reconcilia-se com Cristo

Após abordarmos os sacramentos da iniciação cristã (baptismo, confirmação – crisma e Eucaristia), iniciaremos a segunda categoria dos sacramentos, chamados de cura (penitência – confissão e a unção dos enfermos). Trataremos, neste artigo, a respeito do primeiro sacramento de cura: a penitência, também chamado de sacramento da reconciliação, perdão, confissão e conversão.
Os baptizados são chamados a viver esse sacramento, pois embora no baptismo o homem seja liberto do pecado, arrebatado da morte e destinado a uma vida na alegria dos redimidos, à nova vida da graça, recebida neste sacramento, a fragilidade da natureza humana e a inclinação para o pecado (isto é, a concupiscência) não foram suprimidas. Desta forma, Cristo instituiu o sacramento da confissão para a conversão dos baptizados, os quais d’Ele se afastaram devido ao pecado.
O sacramento da reconciliação foi instituído pelo Senhor, na tarde de Páscoa, quando apareceu aos apóstolos e lhes disse: «Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (Jo 20, 22-23). O próprio Jesus perdoou os pecados de muita gente, para o Senhor isso era mais importante que fazer milagres. Ele via aí o maior sinal da irrupção do Reino de Deus, em que todas as feridas são curadas e todas as lágrimas enxugadas. O Senhor transmitiu aos Seus apóstolos a força do Espírito Santo, na qual Ele perdoava os pecados. Dessa forma, quando nos dirigimos a um sacerdote para confessarmos nossos pecados, caímos nos braços do nosso Pai celeste.
Assim, o homem arrependido de seus pecados, após um sincero exame de consciência; e uma verdadeira contrição (arrependimento) de seus pecados, motivada pelo amor a Deus e do propósito de não mais pecar, dirige-se ao sacerdote e diante dele descreve seus pecados, obrigando-se a realizar certos atos de penitência, que o confessor lhe impuser para reparar o dano causado pelo pecado. O sacerdote, por sua vez, exerce o dever que Cristo confiou aos seus apóstolos, aos bispos, sucessores destes e aos presbíteros, seus colaboradores, os quais, portanto, se convertem em instrumentos da misericórdia e da justiça de Deus. Eles exercem o poder de perdoar os pecados no Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Todo o fiel, obtida a idade da razão, é obrigado a confessar os seus pecados graves ao menos uma vez por ano e antes de receber a Sagrada Comunhão. E quando mais se fizer necessário a partir de um diligente exame de consciência, confessando todos os seus pecados graves. A confissão dos pecados veniais é muito recomendada pela Igreja, embora não estritamente necessária, porque nos ajuda a formar uma consciência reta e a lutar contra as más inclinações, para nos deixarmos curar por Cristo e progredirmos na vida do Espírito.
Desta forma, o dinamismo do «coração contrito» (cf. Sl 51, 19), movido pela graça divina, responde ao amor misericordioso de Deus. Isso implica a dor e a repulsa pelos pecados cometidos e o propósito firme de não mais pecar e a confiança na ajuda de Deus. Alimenta-se da esperança na misericórdia divina.
Os elementos essenciais do sacramento da reconciliação são dois: os actos realizados pelo homem que se converte sob a acção do Espírito Santo e a absolvição do sacerdote, que, em Nome de Cristo, concede o perdão. Os efeitos do sacramento da penitência são: a reconciliação com Deus e, portanto, o perdão dos pecados; a reconciliação com a Igreja; a recuperação, se perdida, do estado de graça; a remissão da pena eterna, merecida por causa dos pecados mortais e, ao menos em parte, das penas temporais que são consequência do pecado; a paz e a serenidade da consciência e a consolação do espírito; o acréscimo das forças espirituais para o combate cristão.
Em casos de grave necessidade (como o perigo iminente de morte), pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com confissão genérica e absolvição colectiva, respeitando as normas da Igreja e com o propósito de confessar individualmente os pecados graves no tempo oportuno.
Um detalhe muito importante, dada à delicadeza e à grandeza deste ministério e o respeito devido às pessoas, todo o confessor está obrigado a manter o sigilo sacramental, isto é, o absoluto segredo acerca dos pecados conhecidos em confissão, sem nenhuma excepção e sob penas severíssimas.
Enfim, pela confissão o homem reconcilia-se com Cristo, com a Igreja e com os irmãos, é, portanto, um sacramento de cura, de recomeço de uma vida de santidade, de acolhimento nos braços do Pai. Assim, como ensinado por São João Maria Vianney, o Cura D’Ars, depois de cada pecado reconhecido, e confessado, ressuscitamos. A confissão concede ao homem a oportunidade de uma vida nova por meio da misericórdia do Senhor.
Aproveite esta Quaresma e se empenhe na vivência da penitência, reconhecendo seus pecados a partir de um exame de consciência sincero, e com o coração contrito, desejando não mais pecar, e procure um sacerdote a fim de receber este sacramento e gozar da vida nova destinada a você por meio da reconciliação com o Senhor.

5. O SACRAMENTO DA ORDEM

Um sacramento de serviço

Continuando nossa série a respeito dos sacramentos, apresentamos hoje o sacramento da Ordem. Juntamente com o Matrimónio são chamados de sacramento de serviço. Assim, quem é baptizado e confirmado (crismado) pode também assumir um serviço especial, pondo-se a serviço de Deus. Isso acontece mediante os sacramentos da Ordem e do Matrimónio, por isso os mesmos são chamados sacramentos a serviço da comunhão e da missão, eles conferem uma graça especial para uma missão particular na Igreja em ordem à edificação do povo de Deus, contribuindo em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros.
A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Seus apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até o fim dos tempos. Nela quem é ordenado recebe o dom do Espírito Santo, concedido por Cristo pelo bispo e que lhe dá autoridade sagrada.  Nele o sacerdote continua sobre a terra a obra redentora de Cristo, afirma São João Maria Vianney.
Chama-se Ordem este sacramento, pois indica um corpo eclesial, do qual se passa a fazer parte, mediante uma especial consagração (Ordenação), que, por um particular dom do Espírito Santo, permite exercer um poder sagrado em nome e com a autoridade de Cristo para o serviço do povo de Deus. Compõe-se de três graus, que são insubstituíveis para a estrutura orgânica da Igreja: o episcopado, o presbiterado e o diaconato.
Os sacerdotes na Antiga Aliança encararam a sua missão como uma mediação entre o celeste e o terreno, entre Deus e o Seu povo. Sendo Cristo, o único mediador entre Deus e a humanidade (cf. 1Tm 2,5), Ele aperfeiçoou e concluiu este sacerdócio. Depois de Cristo, o sacerdócio só pode existir em Cristo, na imolação de Cristo na cruz e pelo chamamento e envio apostólico de Cristo.
O efeito da ordenação episcopal confere a plenitude do sacramento da Ordem, faz do bispo o legítimo sucessor dos apóstolos, confere-lhe a missão de ensinar, santificar e governar. O ministério do bispo é, no fundo, o ministério pastoral da Igreja, porque remonta às testemunhas de Jesus.
Ao presbítero a ordenação assinala nele, pela unção do Espírito, um carácter espiritual indelével, configura-o a Cristo Sacerdote e torna-o capaz de agir em nome de Cristo Cabeça. Sendo cooperador da Ordem episcopal, ele é consagrado para pregar o Evangelho, para celebrar o culto divino, sobretudo a Eucaristia, da qual o seu ministério recebe a força, e para ser o pastor dos fiéis.
Na ordenação diaconal o diácono, configurado a Cristo servo de todos, é ordenado para o serviço da Igreja sob a autoridade do bispo, em relação ao ministério da Palavra, do culto divino, da condução pastoral e da caridade.
Para cada um dos três graus, o sacramento da Ordem é conferido pela imposição das mãos sobre a cabeça do ordinando por parte do bispo, que pronuncia a solene oração consecratória. Com ela, o bispo invoca de Deus, para o ordinando, a especial efusão do Espírito Santo e dos Seus dons, em ordem ao ministério.
Somente o baptizado de sexo masculino pode receber esse sacramento. A Igreja reconhece-se vinculada a esta escolha feita pelo próprio Senhor. Ninguém pode exigir a recepção do sacramento da Ordem, antes deve ser considerado apto para o ministério pela autoridade da Igreja. Esse sacramento dá uma especial efusão do Espírito Santo, que configura o ordenado a Cristo na Sua tríplice função de Sacerdote, Profeta e Rei, segundo os respectivos graus do sacramento. A ordenação confere um carácter espiritual indelével: por isso não pode ser repetida nem conferida por um tempo limitado.
Os sacerdotes ordenados, no exercício do ministério sagrado, falam e agem não por autoridade própria, nem sequer por mandato ou delegação da comunidade, mas na Pessoa de Cristo Cabeça e em nome da Igreja. Portanto, o sacerdócio ministerial difere essencialmente, e não apenas em grau, do sacerdócio comum dos fiéis, para o serviço no qual Cristo o instituiu.
Portanto, os sacramentos da Igreja ora são presididos, ora são assistidos (matrimónio) pelos ministros ordenados, desta forma, para a vida da Igreja e dos fiéis é indispensável que haja homens dispostos a se doar inteiramente ao Evangelho. Por isso é importante que toda a Igreja reze suplicando ao Senhor que suscite no coração dos baptizados sinceras e santas vocações ao sacramento da Ordem.

6. O SACRAMENTO DO MATRIMÓNIO

Uma via de santidade

O sacramento do Matrimónio e o da Ordem são chamados sacramentos a serviço da comunhão e da missão, por conferirem uma graça especial para a missão particular na Igreja com relação à edificação do povo de Deus, contribuindo em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros. O homem e a mulher foram criados por Deus com uma igual dignidade como pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa complementaridade recíproca como masculino e feminino. Deus quis que fossem um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimónio uma só carne (cf. Gn 2, 24).
O Matrimónio participa desta dinâmica de serviço para a santificação. O Senhor, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Ao criar o homem e a mulher, chamou-os, no Matrimónio, a uma íntima comunhão de vida e de amor entre si, de modo que já não são dois, mas uma só carne (cf. Mt 19, 6). Abençoando-os, Deus disse-lhes que fossem fecundos e se multiplicassem (cf. Gn 1, 28).
Esse sacramento se realiza diante de uma promessa entre um homem e uma mulher, prestada diante de Deus e da Igreja, aceita e selada pelo Senhor e concluída pela união corporal do casal. Porque é o próprio Altíssimo quem dá o laço do Matrimónio sacramental e o mantém unido até a morte de um dos consortes. São necessários três elementos para a realização do Matrimónio: o consentimento, a concordância com uma união por toda a vida e apenas com o consorte, e por fim, a abertura aos filhos. Sendo a mais profunda a consciência do casal de que são uma imagem viva do amor entre Cristo e a Igreja.
O sacramento do Matrimónio gera entre os cônjuges um vínculo perpétuo e exclusivo. O próprio Deus sela o consentimento dos esposos. Primeiro, porque corresponde à essência do amor se entregar mutuamente sem reservas. Depois, porque ele é imagem da incondicional fidelidade de Deus à Sua criação. Finalmente, porque ele representa a entrega de Cristo à sua Igreja até à morte de cruz.
Portanto, o Matrimónio concluído e consumado entre baptizados não pode ser dissolvido. Esse sacramento confere também aos esposos a graça necessária para alcançar a santidade na vida conjugal e para o acolhimento responsável dos filhos e a sua educação. A união matrimonial é, muitas vezes, ameaçada pela discórdia e pela infidelidade por causa do pecado original, que provocou também a ruptura da comunhão do homem e da mulher, dada pelo Criador. Todavia Deus, na Sua infinita misericórdia, dá ao homem e à mulher a Sua graça para que possam realizar a união das suas vidas segundo o desígnio originário d’Ele.
O adultério e a poligamia são pecados gravemente contrários ao sacramento do Matrimónio porque estão em contradição com a igual dignidade do homem e da mulher e com a unicidade e exclusividade do amor conjugal; assim como a rejeição à fecundidade, que priva a vida conjugal do dom dos filhos; e o divórcio, que se opõe à indissolubilidade. A fidelidade absoluta no Matrimónio, mais do que ser um testemunho do esforço humano, remete à fidelidade a Deus, que está presente, mesmo quando nós, na questão da fidelidade, O traímos e nos esquecemos d’Ele. A Igreja admite a separação física dos esposos quando, por motivos graves, a sua coabitação se tornou praticamente impossível, embora se deseje a reconciliação deles. Mas eles, enquanto o cônjuge viver, não estarão livres para contrair uma nova união, a menos que o Matrimónio seja nulo e como tal seja declarado pela autoridade eclesiástica.
Jesus Cristo não só restabelece a ordem inicial querida por Deus, como também dá a graça ao casal de viver o Matrimónio na nova dignidade de sacramento, que é o sinal do Seu amor esponsal pela Igreja: “Vós maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja” (Ef 5, 25). O Matrimónio não é uma obrigação para todos. Deus chama alguns homens e mulheres a seguir o Senhor Jesus mantendo-se virgens ou sendo celibatários pelo Reino dos céus, renunciando ao grande bem do Matrimónio para se preocuparem unicamente com as coisas do Senhor e para procurarem agradar-Lhe, tornando-se assim sinal do absoluto primado do amor de Cristo e da ardente esperança da Sua vinda gloriosa.
Tão grande é o valor desse sacramento que a família cristã é chamada de “Igreja doméstica” por manifestar e realizar a natureza de comunhão e família da Igreja como família de Deus. Cada membro, a seu modo, exerce o sacerdócio baptismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos.
Portanto, de acordo com a ordem de São Paulo os “Maridos, devem amar as mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela” (Efésios 5, 25). Nesse lindo sacramento do Matrimónio o casal possui a oportunidade de se doar inteiramente um ao outro, entregando sua vida por amor, à semelhança do próprio Senhor. O beato João Paulo II definiu sabiamente o amor do casal celebrado nesse sacramento, para ele este dom é, acima de tudo, um assumir para si o futuro do outro como seu; esta é a via de santidade por meio do Matrimónio. Desta forma, casar-se significa confiar mais na ajuda de Deus que nas próprias reservas do amor, e certamente na fidelidade ao Senhor pelo sacramento o casal obtém a santificação um do outro pelo amor.

7. O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS

Une intimamente o doente a Cristo

No ritual da unção dos enfermos encontra-se a seguinte petição a Deus: “Por esta santa unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na Sua misericórdia, alivie os teus sofrimentos”. Esta oração contém o objecto central desse sacramento, ou seja, confere a ele uma graça especial que une mais intimamente o doente a Cristo.
Jesus veio para revelar o amor de Deus. Frequentemente faz isso nas áreas e situações em que nos sentimos especialmente ameaçados em função da fragilidade de nossa vida, devido às doenças, morte, etc.. Deus Pai quer que nos tornemos saudáveis no corpo e na alma e reconheçamos nisso a instauração do Reino d’Ele. Por vezes, só com a experiência da enfermidade percebemos que precisamos do Senhor mais do que tudo. Não temos vida, a não ser em Cristo. Por isso os doentes e os pecadores têm um especial instinto para perceber o que é essencial.
No Antigo Testamento, o homem doente experimenta os seus limites e, ao mesmo tempo, percebe que a doença está ligada misteriosamente ao pecado. Os profetas intuíram que a enfermidade poderia ter também um valor redentor em relação aos próprios pecados e aos dos outros. Assim, a doença era vivida diante de Deus, do qual o homem implorava a cura. No Novo Testamento eram os enfermos que procuravam a proximidade de Jesus, procurando “tocá-Lo, pois d’Ele saía uma força que a todos curava” (Lc 6, 19). A compaixão de Jesus Cristo pelos doentes e as numerosas curas de enfermos são um claro sinal de que, com Ele, chegou o Reino de Deus e a vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte. Com a Paixão e Morte o Senhor dá um novo sentido ao sofrimento, o qual, se for unido ao d’Ele, pode ser meio de purificação e de salvação para nós e para os outros.
A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pôr isso em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui, sobretudo, um sacramento específico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: «Quem está doente, chame a si os presbíteros da Igreja e rezem por ele, depois de o ter ungido com óleo no nome do Senhor» (Tg 5, 14-15).
Desta forma, o sacramento da unção dos enfermos pode ser recebido pelo fiel que começa a se sentir em perigo de morte por doença ou velhice. O mesmo fiel pode recebê-lo também outras vezes se a doença se agravar ou então no caso doutra enfermidade grave. A celebração desse sacramento, se possível, deve ser precedida pela confissão individual do doente. A celebração deste sacramento consiste essencialmente na unção com óleo benzido, se possível, pelo bispo, na fronte e nas mãos do enfermo (no rito romano, ou também noutras partes do corpo segundo outros ritos), acompanhada da oração do sacerdote, que implora a graça especial desse sacramento. Ele só pode ser administrado pelos sacerdotes (bispos ou presbíteros).
Este sacramento confere uma graça especial que une mais intimamente o doente à Paixão de Cristo, para o seu bem e de toda a Igreja, dando-lhe conforto, paz, coragem, e também o perdão dos pecados, se ele não puder se confessar. E consente, por vezes, se for a vontade de Deus, também a recuperação da saúde física do fiel. Em todo o caso, essa unção prepara o enfermo para a passagem à Casa do Pai. Por isso, concede-lhe consolação, paz, força e une profundamente a Cristo o doente que se encontra em situação precária e em sofrimento. Tendo em vista que Senhor passou pelas nossas angústias e tomou sobre Si as nossas dores.
Muitos doentes têm medo desse sacramento, e adiam-no para o fim, porque pensam se tratar de uma espécie de “sentença de morte”. No entanto, é o contrário disso: a unção dos enfermos é uma espécie de “seguro de vida”. Quem, como cristão, acompanha um enfermo deve libertá-lo desse falso temor. A maior parte das pessoas que está em risco de vida tem a intuição de que nada mais é importante nesse momento do que a confiança imediata e incondicional Àquele que superou a morte e é a própria Vida: Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.