quarta-feira, 27 de julho de 2011

VIGILÂNCIA IGREJA

Comentário pessoal...


Não é certamente inútil lembrar que tudo quanto a Beata Alexandrina escreveu no seu “Diário” (Sentimentos da alma) não se referia unicamente ao tempo em que ela viveu, mas certamente e sobretudo aos nossos tempos. Vejamos o porquê desta afirmação.
Primeiramente: Os escritos da beata só começaram a ser conhecidos quando o Padre Mariano Pinho publicou os dois primeiros livros sobre a sua dirigida (“Una vítima da Eucaristia” e “No calvário de Balasar”). Isto aconteceu nos fins dos anos 50 e princípio dos anos 60. Mas estas duas obras essenciais, apenas abordam alguns extratos dos mesmos documentos, extratos escolhidos com muito cuidado, para não “estorvarem” o processo canónico que em breve iria ser começado.
Segundamente: As comunicações sociais não eram as mesmas nem tinham o mesmo impacto que aquelas que hoje conhecemos e utilizamos sem restrições.
Em 1954, estávamos a uma dezena de anos do Concílio do Vaticano II e das grandes modificações que iriam ser operadas na Igreja, não porque o dito Concílio tenha sido um mal para a Igreja — penso-o sinceramente — mas pela má aplicação que dele fizeram algumas igrejas locais, aproveitando a situação para instaurarem modificações contrárias aos princípios mesmo do Concílio e até mesmo provocando algumas heresias que ainda hoje persistem, infelizmente, nesses países.
Sabemos que a Beata Alexandrina beneficiava de diversos carismos, entre os quais o da profecia. Em 1945 descreveu com uma precisão extraordinária o que se iria passar quase vinte anos mais tarde, no que diz respeito à Sagrada Comunhão.
Em 19 de Novembro de 1954, recebeu de Jesus estas palavras:
— “Minha filha, minha filha, escuta o meu desabafo. O mundo peca loucamente, dia e noite. Não cessa de desafiar a justiça de meu Pai, mas os sacerdotes, tantos sacerdotes, aquelas almas a Mim consagradas, tomam-me nas suas mãos, esmagam-me, põem-me todo em sangue com os seus sacrilégios, vida de vícios. Os seus maus exemplos abrem abismos para a perda de tantas, tantas, tantas almas. Vigilância à Igreja, principie a Igreja. Haja uma renovação de vida!”
Esta “queixa” de Jesus não necessita de comentários, seriam quase sobrerealitas aqui.
Não se trata nesta “nota” de criticar os sacerdotes pelos quais tenho o maior respeito e um grande carinho, mas também não se pode dizer que Jesus se enganou quando assim falou à Beata Alexandrina, tantos são os casos que todos temos ainda presentes nas nossas mentes, visto que recentemente evocados pelos jornais e televisões do mundo inteiro.
Dizer que de todos os tempos assim foi, seria fácil como argumento. Não, os tempos não foram todos como o nosso tempo, mesmo se estou convencido que a história do mundo se desenrolou, até aos nossos dias, em ciclos relativamente semelhantes uns aos outros. O nosso tempo, porque é justamente o nosso, parece ser pior — e isto não é pessimismo da minha parte! — do que qualquer outro, justamente devido, ou graças, aos meios de comunicação actuais, que são inimagináveis.
A Beata Alexandrina confessa: “Não posso dizer, não sei dizer em que estado vi o meu Jesus. Todo o Seu ser era uma massa de sangue. Não tinha forma humana. Ai, como eu vi o meu Jesus!... E como aquela massa dava sangue, só sangue!”
Certos teólogos afirmam, com grande rompante, que Jesus deixou de sofrer com a sua própria Resurreição e a sua Glorificação junto do eterno Pai. É verdade e não, porque Cristo continuará a sofrer até ao fim dos tempos no seu Corpo místico que é a Igreja. O mesmo é dizer, como disse São Paulo, que cada um de nós deve “sofrer no seu próprio corpo, aquilo que faltou à Paixão de Cristo” e faltou porquê? Simplesmente porque Jesus adicinou aos seus próprios sofrimentos, todos aqueles pecados, ofensas e blasfémias que o fariam sofrer até à consumação dos séculos. Isto não exclui de maneira nenhuma, todas as orações, desagravos e ofertas que lhe seriam feitos durante esse mesmo péríodo, período no qual devemos incluir a Beata Alexandrina que muito bem compreendeu esta maneira pela qual Deus tinha escolhido para redemir o mundo. Por isso mesmo, a cada passo, em qualquer ocasião ela exclama e grita mesmo, com uma fé inalterável:
— Sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima. Sede Jesus, transformai-Vos na beleza de Jesus.
Que fazer?
Para nós que, prevenidos “a tempo”, uma solução se apresenta, clara e nítida: orar. Se a nossa oração for sincera, podemos “influenciar” o Coração do Pai, podemos abrandar o peso da sua divina Justiça, porque Deus sendo Amor, este amor sobrepassa a Justiça e leva deus a reconsiderar a nossa posição de pecadores, mas de pecadores arrependidos e prontos a espiar as nosas faltas, os nossos pecados.
Mas, quem tem pecados hoje?
Vivo há mais de quarenta anos num pais que banio a palavra pecado, porque, Deus sendo amor, perdoa tudo e mais alguma coisa. Por isso mesmo, nem é necessário confessar-se diante dum sacerdote, porque Deus “vê tudo, mesmo o que é secreto” e por isso mesmo sabendo que pecámos, logos nos perdoa, nem sendo mesmo necessário pedir-lhe perdão... Esta é uma das heresias duma parte da Igreja de França.
No momento da Comunhão, todos se levantam e todos estedem a mão para receberem o Rei dos reis, para receberem o Deus, único e verdadeiro. Mas, quantos se confessaram e pediram perdão pelos pecados cometidos? Quantos destes tiveram a coragem de ajoelhar diante dum sacerdote — representante de Cristo na terra — e de lhe dizerem humildemente: “Padre, perdoe-me porque pequei” e de confessar todos os desaires que em cada dia cometemos contra o nosso Deus de amor?
Pessimista!
Não, de maneira nenhuma e, dizer o contrário do que aqui afirmo, seria mentir e tratar Deus de mentiroso.
O Beato João Paulo II disse muitas vezes que nesta época em que vivemos, muitas vezes se confunde o bem com o mal e o mal com o bem; que muitas vezes dizemos ser bem o que é mal e mal o que é bem.
Será isto maldicência ou falta de caridade?
Penso que não, pois dizer e explicar uma verdade que só os cegos (voluntários) não vêem, só pode ser uma obra de misericórdia.
Somos todos pecadores e eu, talvez o maior de todos, e todos queremos ser salvos, participar na Mansão celeste da glória de deus, por isso mesmo devemos amr-nos uns aos outros e uns aos outros nos estimular a viver a verdade de Deus e não a nossa verdade.
Então, se assim é, sejamos soficientemente humildes para dizermos, para gritarmos do fundo dos nossos corações, como a Beata Alexandrina de Balasar:
— Sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima. Sede Jesus, transformai-Vos na beleza de Jesus.
Vem, Senhor Jesus!
Afonso Rocha

quarta-feira, 20 de julho de 2011

COMO TRABALHAM OS DEMÓNIOS

Quando estes tentadores ordinários encontram almas fortes...

Os demónios que permanecem no meio de nós, e receberam o poder de nos tentar, são todos espíritos caídos do último coro. Os anjos destinados à nossa guarda são também simples anjos. Estes espíritos tentadores estão sem cessar ocupados na preparação da nossa perca. Os meios que eles utilizam para isso são tão subtis e tão variados, que a alma que a eles escapa pode sentir-se feliz e não deveria nunca esquecer de agradecer a Deus tão grande graça.

Nem um só momento, quer de dia quer de noite, estes cruéis inimigos deixam de nos tentar ora de uma maneira ora de outra, de maneira a desanimar aqueles que eles não podem vencer nem pela astúcia nem pela violência. A paciência é pois a arma defensiva por excelência. Ai daqueles que a deixam cair das próprias mãos !

Quando estes tentadores ordinários encontram almas fortes e pacientes, que eles não podem nem começar, chamam, para ajudá-los, companheiros mais astuciosos et mais ardis, não para combater com eles ou no lugar deles, porque Deus não o permite, mas para lhes sugerirem estratagemas mais eficazes.

Francisca sabia tudo isso por experiência ; era raro que ela fosse tentada por um só demónio. Regularmente outros vinham associar-se aos primeiros ; e fracos ainda, estes recorriam à malícia dos espíritos superiores que permaneciam no ar.

Ela tinha-se tornado tão perita nesta guerra, que travando combate, ela sabia a que coro (dos anjos) tinha pertencido aquele que dirigia, assim como quem ele era.


Santa Francisca Romana : Tratado do inferno ; Cap. VI.

domingo, 10 de julho de 2011

É INDIZIVEL A DOR DE JESUS !

Tinha que ser condenada à morte

Durante esta noite senti-me no Horto; lá sofri como se fosse despida e açoitada. Lá vi, lá sofri como se fosse coroada de espinhos e com o corpo despedaçado pelos açoites, levada à varanda de Pilatos. Vi a multidão do povo ouvi suas vociferações: tinha que ser condenada à morte. A noite estava escura e serena, que não deixava mover uma só folha das oliveiras, a não ser quando a dor tudo obrigava a tremer, à solidão e a vir todo o abandono, mesmo até do Eterno Pai. E àquela hora onde estava a Mãezinha? Quanto sofria Ela com a reparação e a despedida de Jesus! Ele, dentro de mim, via e sofria a Sua dor, via onde Ela estava, via a distância que Os separava. Que dor sem igual! E, hoje, sinto em meu coração a dureza dos corações, que acompanhavam Jesus, pelas tristes ruas do calvário; nada os comovia, nem o sangue de Jesus, nem o Seu santíssimo corpo ferido, nem ver o amor com que Ele aceitou e levou a cruz, já quase moribundo. Ao terminar do calvário, Jesus deu-me um profundo suspiro; e o Seu olhar moribundo, mas divino levou a todos um olhar de convite, amor e perdão. Que olhar de tantos segredos misteriosos! Quisesse ou não eu tinha que sentir e ver as graças abundantes que davam aqueles olhares de Jesus; quisesse ou não quisesse, tive que sentir e ver o calvário e todo o mundo a desprezá-las a deitá-las fora. É indizível a dor de Jesus e a minha com a d’Ele; ver tantos sofrimentos inúteis, ver para tantos nada valer a Sua paixão e morte. Senti dentro em meu peito o último suspiro de Jesus: agonizei com Ele. Momentos depois, senti abrasar-se-me o coração; parecia-me estar a nadar num mar de fogo. E logo me falou Jesus assim:
— Venho a ti, minha filha, cheio de amor e compaixão; amor para te encher e compaixão pela tua dor, por tanto te ver sofrer. Sofreste tu, Minha filha, mas não Eu. Repara; vês como venho sem nenhum ferimento? Foi atingido o teu coração e não o Meu. Tem coragem, Minha filha! Eu pedi-te dor, sempre dor, para espalhar pelo mundo, e foi ao mundo que a estendi com a mistura do Meu divino amor. Pedi-te dor, sempre dor, porque de muita dor necessito, para bem das almas, e muita dor via para te darem. Coragem! Eu poderei dizer de ti o que disse: as portas do inferno não prevalecerão contra mim, isto é, contra a Minha Igreja. E agora digo: a raiva humana, que mais parece infernal, nada poderá contra a Minha divina causa. Anima-te, esposa querida. Consentes em te pedir dor, sempre mais dor? Consentes em seres imolada, a mais não poder ser? Peço-te consentimento, porque nada vale a dor sem a generosidade, sem o teu querer, sem o teu amor. O mundo necessita de tudo. Não deixeis, filha amada, morrerem as almas de fome. Aceitas?
— Já sabeis que sim, meu Jesus; escusado é dizer-Vos que tudo aceito e sofro, por Vosso amor e pelas almas. Sou a Vossa vítima. Mas pedis-me assim tanta dor; o que virá mais? Eu já queria dizer-Vos, na última vez que falei convosco, o que me esperava, pois achava que acentuáveis tanto a palavra dor, que tanto fazíeis penetrar em mim, e que tudo isso queria dizer mais alguma coisa; mas não atreve a perguntar-Vos nada. Compreendi tudo, todos os teus desejos, mas nada te disse, para não te atemorizar. Dizei-me, meu Jesus. E não serei eu uma iludida das Vossas coisas e nossa ilusão a iludir tantos e mais ainda aos que me são tão queridos?
— Sossega, sossega, Minha filha, confia no teu Jesus. Não é uma ilusão; é a realidade. Tu foste cheia das maiores graças das maiores maravilhas do Senhor. Sossega, de ti quero o sofrimento com o silêncio. E darei a minha luz, a luz do Espírito Santo àqueles que precisam dela. Confia em Mim; todo o Céu se alegrou com a consolação que Me deste, com a coragem do teu sofrer. A tua dor foi para as almas uma primavera de flores. O teu heroísmo, o teu amor à cruz, pôs o Céu, a tua pátria em festa. Entoaram, em Meu louvor, hinos jubilosos. Vou dar-te agora uma gota do Meu sangue divino, para reparares as forças perdidas. Consumiste mais forças nestes dias de sofrimento do que num ano dos trabalhos mais austeros de jejum, a pão e água. Vem a mim; é fácil a operação.
Jesus abriu o Seu divino lado e abriu também o meu; uniu os Nossos corações e logo deixou cair do d’Ele no meu uma gotinha do Seu divino sangue. Senti logo o coração mais forte, a dilatar-se. Jesus colocou um e outro no seu lugar; cerrou o Seu santíssimo peito, cerrou também o meu, bafejou com o Seu bafo divino, deixou-o sem cicatriz.
— Vai agora, filhinha amada; vai sofrer, vai cheio do Meu divino amor; vai espalhá-lo pelo mundo; leva a Minha graça, leva a Minha força. Tem coragem; nada temas. Jesus é contigo; sempre contigo.
— Obrigada, meu Jesus; só em Vós é que eu confio.
Como gosto de dizer: Bendito seja Deus, bendita seja a minha cruz. Voltei para os meus sofrimentos, a tudo ver desenrolar à minha frente; tudo me causa pavor, nada queria escrever. Se não fosse a minha oferta da noite de Natal ao Menino Jesus, mais nada escrevia; ficava como se tido morresse. Assim quero só, quero sempre a vontade do meu Senhor.

(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 14 de Fevereiro de 1947. - Sexta-feira

quarta-feira, 6 de julho de 2011

SOU O TEU GUIA

Cega, sem nada ver, caí à borda da estrada

O coração sente e vê o meu túmulo, não sai do pé dele, enquanto todo o outro ser em suor banhado segue a sua canseira num abismo tal sob o peso de milhões e milhões de mundos. Quando está nesta profundidade, parece que não pode voltar à superfície da terra. Com a perda de Jesus e da Mãezinha, do Calvário e do Horto, perdi tudo para jamais voltar a possuir.
Que dor, que dor infinita! A passagem pelo horto e pela montanha é como que por terra estranha, terra morta, sem luz, sem amor. Parece que, ainda que quisesse recordar o que tudo isto foi, não podia. Sem mal poder mover os lábios, falando mais com o coração, chamei por Jesus e pela Mãezinha: necessitava do Seu conforto.
Eram já três horas e alguns minutos sem que Ele viesse. Num dado momento, surgiu-me de repente. Com um foco de luz iluminou-me, tomou-me toda inteiramente e meteu-me no seu Divino coração.
— “Vem, minha filha, descansar na morada do meu Divino coração; aqui estás e dele vives. Vive do sacrário, vive da cruz, nela bem cingida, nela bem crucificada. Comunica a vida do Calvário, a vida do sacrário e a deste Coração Divino. Vives para os teus Amores, falas dos teus Amores. Coragem, recebe aqui conforto, recebe aqui fortaleza para tantas forças que a dor consome.”
Não sei o tempo que estive dentro desta doce morada. De repente, fiquei sozinha; fugiu-me a luz e o lugar de repouso. Cega, sem nada ver, caí à borda da estrada. Levantar-me não podia, os meus gemidos não se ouviam e em tal escuridão não podia ser encontrada. Perdi tudo: não tenho Jesus nem a Mãezinha, estou sem guia. Parecia ali uma eternidade, a minha eternidade, aquela eternidade que eu vivo há tanto tempo, sempre em princípio, sem um momento caminhar. O meu brado continuou, assim como o meu esforço para levantar-me. Não fui capaz. Jesus veio, foi Ele quem me levantou e sem que eu visse que era Ele; tinha que acreditar pela fé. Tomou-me pela mão e, caminhando comigo, como se eu fora ceguinha e nenhum caminho conhecesse, foi-me falando assim:
— “Sou o teu guia, sou o teu Jesus. Colóquio de fé, vive da fé, colóquio de dor, vive na dor. Coragem, minha filha! O mundo corre sempre para o abismo da perdição. Se assim não sofresses, já toda a terra ter-se-ia aberto num só vulcão de fogo. Quantas almas, quantas almas teriam caído no inferno nas horas destinadas a lá as receber. Quantos sacerdotes lá estavam precipitados. Quantos, quantos! Para a reparação dos sacerdotes, outros a prepararem-te a imolação! Acode ao mundo, lembra-te que ele é teu!”
Nova ausência de Jesus, até que voltou a vir, uniu os nossos corações e disse-me:
— “Recebe a gota do meu divino Sangue. Vives só a minha vida; comunica ao mundo a mesma vida. Salva-o e não te esqueças que to entreguei, que ele é teu.”
Pus-me a fazer-Lhe os meus pedidos e não cheguei a dizer-Lhe o meu obrigada sem que Ele tivesse desaparecido. Creio, creio!
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 26/02/1954- Sexta-feira).

domingo, 3 de julho de 2011

UNIRAM-SE OS CORAÇÕES

Jesus pede amor e pede reparação

Nesta manhã, segui as ruas da amargura; não podiam ser mais tristes e amargas. O meu coração foi sangrando em toda a viagem. Quanto mais caminhava, mais espinhos e lanças o feriam. O corpo, sem poder aguentar o peso da cruz, caiu desfalecido. Jesus parecia que ia ofegante, dentro de mim. No alto da cruz continuei a senti-lo ofegante, mas quase sem vida. O Seu Divino Coração agonizante ia agonizando dentro do meu. Também no meu coração, os Seus divinos lábios balbuciaram: “Tenho sede!” E foi nesta sede de amor que Jesus entregou o Seu espírito e o meu com O d’Ele. Depressa senti como se de cima abaixo se rasgasse um véu, e Jesus apareceu-me com a Sua luz e deu-me a Sua vida. Após uns momentos, falou-me assim:

– Aqui está Jesus, o mendigo, o pedinte do amor. Aqui está Jesus, o pedinte, o mendigo da dor, daquela dor que repara, daquela dor que dá a vida às almas. Repara o Coração Divino de Jesus, dá às almas a vida da graça, as quais custaram o Seu Divino Sangue. Reparai, reparai bem quem é o pedinte, quem é o mendigo. É Jesus, é Jesus, ansioso de se dar, de se dar todo, com todas as riquezas do Seu Divino Coração. É Jesus, ansioso de possuir inteiramente os corações da humanidade inteira. Reparai e ponderai como é grande, infinitamente grande o amor misericordiosíssimo de Jesus. Reparai! Jesus baixa do Céu à terra, vem ao coração da Sua esposa e vítima pedir, pedir incessantemente. Jesus pede amor e pede reparação. Ó minha filha, minha filha, os pecadores rasgam à espada o meu Divino Peito e atingem cruelmente este Coração que tanto amou e ama. Ó minha filha, minha filha, os meus divinos olhos têm que chorar. Este Coração amorosíssimo não pode cessar de sangrar; a chaga está aberta. Fazem-Me chagas sobre chagas. São os pecadores, são os ingratos, são os cruéis.

– Sossegai, sossegai, Jesus. Parem ao longe, muito ao longe, não de mim mas sim de Vós; longe de Vós para ferir-Vos, mas perto de Vós para receberem o Vosso perdão. Parem e venham todos para mim, para ferirem o meu pobre coração, para não ferirem o Vosso. Parem e venham todos para mim com todas as crueldades, com todos os martírios, para que eu possa, sim, meu Jesus, dar-Vos a Vós toda a reparação necessária. Eu quero chorar e chorar sempre, meu Jesus, as Vossas lágrimas. Eu quero sofrer e sentir sempre as Vossas dores. Parem, parem ao longe os corações ingratos, para não usarem para Vós de mais ingratidão. Venham, venham para mim todos. Estou pronta a imolar-me, a sacrificar-me, para não ver o meu amantíssimo Jesus chorar nem sofrer.

– Pede, pede, minha filha, pede mais uma vez a Sua Santidade, ao Papa, ao meu representante na terra que a sua voz se faça ecoar na humanidade inteira como trombeta celeste que vem avisar, que vem prevenir, que cai em breve, muito em breve, sobre o mundo culpado, toda a justiça, toda a vingança do Senhor. Que mais uma vez ecoe a sua voz de Pai. Filhos meus, pede-vos Jesus. Fazei oração, fazei penitência. Convertei-vos! Deixai-vos dos crimes e das iniquidades, minha filha, minha filha, todo o pai que avisa ama. Todo o pai que repreende é correcto e fiel à lei do Senhor, assim como Eu o sou à lei do meu Pai.

– Ó meu Jesus, ó meu Jesus, estou cheia de medo, estou aprovada. A minha lama vê o mundo destruído, todo em ruínas. E parece que o Céu, revestido de nuvens negras, esmaga a terra e sobre ela deixa cair um fogo, um fogo consumidor. É a chuva, é a chuva da justiça. Bem o compreendo, meu Jesus. Perdoai, perdoai, sou a Vossa vítima. Perdoai por mais tempo. Perdoai, perdoai sempre.

– Vem, minha filha, minha amada filha. Recebe a gota do meu divino Sangue. Uniram-se os corações, O de Jesus com o da Sua esposa. Passou lentamente a gotinha de sangue. É a tua vida, é a tua vida. Jesus to afirma. É a força na tua imolação. É a vida que dás às almas. Vives de Jesus, dás a vida de Jesus. Vives a vida da graça, é a vida da graça que tu dás. Tem coragem, estou contigo. O meu divino Coração não pode separar-se do teu coração sofredor. Coragem, coragem! Fica na cruz.

– Obrigada, meu Jesus, obrigada, meu Amor!
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 22 de Fevereiro de 1952 – Sexta-feira)

sábado, 2 de julho de 2011

VISÃO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Não sou eu que sofro, mas sim Jesus...

O meu sofrimento aumenta, a minha cruz pesa-me mais de momento para momento. Sinto-me como se estivessem a terminar os meus dias aqui na terra. O meu pobre corpo é uma massa em sangue, desfeito pela dor. Vivo como se não vivesse. O que será de mim, meu Jesus! Amo a cruz e não tenho forças para a abraçar. Sinto-me arrefecer, estou gelada. Quanto mais sofro, menos sinto amar a Jesus. Quanto mais Lhe ofereço os meus sofrimentos, nas minhas negras e dolorosas trevas, menos sinto que Lhe dou. Não tenho para Ele um sorriso, um acto de amor ou reparação. Sou pobre, mísera pobre; o que Lhe dou, nada me pertence. Sinto-me, por vezes, na divina presença de Jesus, de mãos vazias, olhos baixos, cabeça inclinada, envergonhada de mim mesma. Que contas Vos hei-de dar, meu Deus, a Vós, de quem tudo recebi a quem nada dei e nada tenho para dar. Triste confusão a minha! Poderei viver sem sofrer e sem amar O meu Jesus? Oh! não, não posso sem isso a vida seria para mim já um inferno. Ó Jesus aceitai para Vós o meu sofrimento e mesmo sem sentir amor fazei que Vos ame, deixai-me enlouquecer por Vós.
Os espinhos nascem para mim, noite e dia, como noite e dia nascem e crescem as flores dos campos e jardins. Por todos os lados os sinto e vejo a ferirem-me. Eu quero-os e amo-os, mas desfaleço em recebê-los; recebe-os como mimos do Céu, como carícias de Jesus.
Pressinto que novos e agudos espinhos alguém prepara para me cravar; parece-me ouvir o rumor de nova tempestade. Levantam-se contra mim novas ondas furiosas. De novo me estendo na cruz; deixo-me crucificar à semelhança do meu Senhor.
Na noite de 14 para 15, veio de encontro ao meu martírio, suavizar a minha dor, uma linda visão da SS. Trindade: era um trono riquíssimo: no cimo o divino Espírito Santo em forma de pomba deixava cair sobre O Pai e sobre O Filho que mais abaixo, ao lado um do outro, estavam sentados, uma chuva de raios doirados. Pouco depois, diante do Eterno Pai, uma alma ficou ajoelhada em sinal de reverência; uniu-se a uma mão dela uma mão de Jesus que o Padre Eterno ligou. Tudo estava iluminado, parecia o Céu, era luz celeste. Desapareceram as três divinas pessoas e a alma ficou por algum tempo na mesma posição, mergulhada no mesmo amor.
Confortou-me também a visão, duma vez de S. José, e, doutra, de Nossa Senhora; um e outro com o Menino Jesus ao colo. São eles que me levantam, são eles a força e a coragem do meu tanto sofrer. Não sou que sofro, mas sim Jesus, só Jesus que sofre por mim.
(Beata Alexandrina de Balasar: Sentimentos da alma, 25 de Abril de 1947 - Sexta-feira)