quarta-feira, 6 de julho de 2011

SOU O TEU GUIA

Cega, sem nada ver, caí à borda da estrada

O coração sente e vê o meu túmulo, não sai do pé dele, enquanto todo o outro ser em suor banhado segue a sua canseira num abismo tal sob o peso de milhões e milhões de mundos. Quando está nesta profundidade, parece que não pode voltar à superfície da terra. Com a perda de Jesus e da Mãezinha, do Calvário e do Horto, perdi tudo para jamais voltar a possuir.
Que dor, que dor infinita! A passagem pelo horto e pela montanha é como que por terra estranha, terra morta, sem luz, sem amor. Parece que, ainda que quisesse recordar o que tudo isto foi, não podia. Sem mal poder mover os lábios, falando mais com o coração, chamei por Jesus e pela Mãezinha: necessitava do Seu conforto.
Eram já três horas e alguns minutos sem que Ele viesse. Num dado momento, surgiu-me de repente. Com um foco de luz iluminou-me, tomou-me toda inteiramente e meteu-me no seu Divino coração.
— “Vem, minha filha, descansar na morada do meu Divino coração; aqui estás e dele vives. Vive do sacrário, vive da cruz, nela bem cingida, nela bem crucificada. Comunica a vida do Calvário, a vida do sacrário e a deste Coração Divino. Vives para os teus Amores, falas dos teus Amores. Coragem, recebe aqui conforto, recebe aqui fortaleza para tantas forças que a dor consome.”
Não sei o tempo que estive dentro desta doce morada. De repente, fiquei sozinha; fugiu-me a luz e o lugar de repouso. Cega, sem nada ver, caí à borda da estrada. Levantar-me não podia, os meus gemidos não se ouviam e em tal escuridão não podia ser encontrada. Perdi tudo: não tenho Jesus nem a Mãezinha, estou sem guia. Parecia ali uma eternidade, a minha eternidade, aquela eternidade que eu vivo há tanto tempo, sempre em princípio, sem um momento caminhar. O meu brado continuou, assim como o meu esforço para levantar-me. Não fui capaz. Jesus veio, foi Ele quem me levantou e sem que eu visse que era Ele; tinha que acreditar pela fé. Tomou-me pela mão e, caminhando comigo, como se eu fora ceguinha e nenhum caminho conhecesse, foi-me falando assim:
— “Sou o teu guia, sou o teu Jesus. Colóquio de fé, vive da fé, colóquio de dor, vive na dor. Coragem, minha filha! O mundo corre sempre para o abismo da perdição. Se assim não sofresses, já toda a terra ter-se-ia aberto num só vulcão de fogo. Quantas almas, quantas almas teriam caído no inferno nas horas destinadas a lá as receber. Quantos sacerdotes lá estavam precipitados. Quantos, quantos! Para a reparação dos sacerdotes, outros a prepararem-te a imolação! Acode ao mundo, lembra-te que ele é teu!”
Nova ausência de Jesus, até que voltou a vir, uniu os nossos corações e disse-me:
— “Recebe a gota do meu divino Sangue. Vives só a minha vida; comunica ao mundo a mesma vida. Salva-o e não te esqueças que to entreguei, que ele é teu.”
Pus-me a fazer-Lhe os meus pedidos e não cheguei a dizer-Lhe o meu obrigada sem que Ele tivesse desaparecido. Creio, creio!
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 26/02/1954- Sexta-feira).

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