TRATADO DO PURGATÓRIO
INTRODUCÇÃO
Esta alma santa
ainda em sua carne foi transportada ao purgatório do ardente amor de Deus. Ele
a queimou toda e purificou-a do que tinha que purificar, para que no final
desta vida pudesse ser apresentada ao olhar de Deus o seu doce amor.
Por meio deste
amor ardente, ela compreendia nela mesma em que estado estão no purgatório as
almas dos crentes para serem purificadas de toda a espécie de ferrugem e mancha
de pecado ainda não apagado durante esta vida.
Ela mesma,
estabelecida no purgatório do fogo divino do amor, permanecia unida ao seu amor
divino, satisfeita com tudo o que ele operava nela; entendendo que assim era
com as almas que estão no purgatório, ela dizia:
1.
Perfeita conformidade das almas do Purgatório com a vontade de Deus.
As almas que
estão no purgatório, segundo me parece compreender, não podem ter nenhuma outra
escolha a não ser de estar nesse lugar. Isto acontece pela disposição de Deus.
Não podem essas almas voltar-se sobre si mesmas, nem dizer: “Eu cometi esses
pecados, pelos quais mereço estar aqui”. Nem pode dizer: “Quisera não tê-los
cometido, porque agora estaria no paraíso”. Nem sequer exclamar: “Esta alma
sairá daqui antes de mim, ou, sairei antes dela”?
Não podem ter
lembrança de si mesmas nem dos outros (de bem ou de mal) que possam causar-lhe
maior aflição da que já têm. Ao contrário, tem tal contentamento de se
encontrarem na disposição e do que Deus nelas realiza quanto quer e como quer
que não podem pensar em ter pena maior para si mesmas.
Vêem somente as
operações da divina bondade que, com tanta misericórdia, conduzem o homem para
Deus: Por isso, não podem ver nem os sofrimentos, nem os bens que possam
acontecer ao homem como coisa dele. Se pudessem ver isto, não estariam em
caridade pura. Não podem ver que estão nestas penas por seus pecados nem podem
ter esta ideia na mente, porque isso seria uma imperfeição activa, a qual não pode
existir nesse lugar, porque actualmente não se pode ali pecar.
A causa de
estarem no purgatório, essas almas a vêem uma só vez, quando passam desta vida.
Já não podem vê-la mais, pois, caso contrário, haveria uma posse. Portanto,
estando essas almas em caridade e, não podendo desviar-se dela com nenhum
defeito actual, não podem querer nem desejar senão o puro querer da pura
caridade. Estando no fogo do purgatório, estão dentro da disposição divina, a
qual é caridade pura, e não podem desviar-se o mínimo em nenhuma outra coisa,
porque estão também igualmente impossibilitadas de pecar como de merecer.