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sexta-feira, 18 de maio de 2018


VISÕES E INSTRUÇÕES

Santa Ângela de Foligno



ANGELA DE FOLIGNO

Eu — diz Ângela de Foligno — ao entrar no caminho da penitência, fiz dezoito passos antes de conhecer a imperfeição da vida.

PRIMEIRO PASSO

Ângela toma consciência dos seus pecados

Olhei pela primeira vez os meus pecados e compreendi-os: a minha alma ficou atemorizada e tremeu por causa da danação, e chorei, chorei muito.

SEGUNDO PASSO

A CONFISSÃO

Então corei pela primeira vez, e tal foi minha vergonha, que recuei diante da confissão. Não me confessei, não ousava confessar, e fui à mesa sagrada, e foi com os meus pecados que recebi o corpo de Jesus Cristo. É por isso que dia e noite a minha consciência continuava a repreender-me. Eu implorei São Francisco para me encontrar o confessor que eu precisava, alguém que pudesse entender e a quem eu pudesse falar. Na mesma noite, o “velhote” me apareceu. “Minha irmã”, disse ele, “se me tivesses chamado antes, eu te teria ouvido mais cedo. O que pedes está feito.”
No dia seguinte, encontrei na igreja de São Feliciano, um frade que pregava.
Depois do sermão, resolvi confessar-me a ele. Confessei-me plenamente e recebi a absolvição. Não senti amor; apenas amargura, vergonha e dor.

TERCEIRO PASSO

A SATISFACÃO

Perseverei na penitência que me foi imposta; procurei satisfazer a justiça, vazia de qualquer consolação, pena ou dor.

QUARTO PASSO

CONSIDERAÇÃO DA MISERICÓRDIA

Lancei um primeiro olhar sobre à misericórdia divina; conheci aquela que me tirara do inferno, como aquela que me deu a graça que conto. Recebi a sua primeira iluminação; a dor e os prantos redobraram. Entreguei-me a uma severa penitência; mas não quero dizer qual.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

VERÓNICA JULIANI

Religiosa, Mística, Santa
1660-1727

Hoje, gostaria de apresentar uma mística que não é da época medieval; trata-se de Santa Verónica Juliani, monja clarissa capuchinha. O motivo é que no próximo dia 27 de Dezembro se celebra o 350° aniversário do seu nascimento. Città di Castello, lugar onde ela viveu durante muitos anos e faleceu, assim como Mercatello — sua cidade natal — e a diocese de Urbino, vivem este acontecimento com alegria.

Verónica nasce precisamente no dia 27 de Dezembro de 1660 em Mercatello, no vale do Metauro, filha de Francesco Juliani e Benedetta Mancini; é a última de sete irmãs, das quais outras três abraçarão a vida monástica; é-lhe conferido o nome de Úrsula. Aos sete anos perde a mãe, e o pai transfere-se para Piacenza como superintendente das alfândegas do ducado de Parma. Nessa cidade, Úrsula sente crescer em si o desejo de dedicar a vida a Cristo. O apelo faz-se cada vez mais urgente, a tal ponto que, com 17 anos, entra na estrita clausura do mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Città di Castello, onde permanecerá durante toda a sua vida. Ali recebe o nome de Verónica, que significa «verdadeira imagem» e, com efeito, ela tornar-se-á deveras imagem de Cristo Crucificado. Um ano depois, emite a solene profissão religiosa: começa para ela o caminho de configuração com Cristo através de muitas penitências, grandes sofrimentos e algumas experiências místicas ligadas à Paixão de Jesus: a coroação de espinhos, as bodas místicas, a ferida no coração e os estigmas. Em 1716, com 56 anos, torna-se abadessa do mosteiro e é reconfirmada nesta função até à sua morte, ocorrida em 1727, depois de uma dolorosíssima agonia de 33 dias, que culmina numa profunda alegria, a tal ponto que as suas últimas palavras foram: «Encontrei o Amor, o Amor deixou-se ver! Esta é a causa do meu padecimento. Dizei-o a todas, dizei-o a todas!» (Summarium beatificationis, 115-120). Em 9 de Julho deixa a morada terrena para o encontro com Deus. Tem 67 anos, 50 dos quais transcorridos no mosteiro de Città di Castello. É proclamada Santa no dia 26 de Maio de 1839 pelo Papa Gregório XVI.

Verónica Juliani escreveu muito: cartas, relatórios autobiográficos e poesias. Todavia, a fonte principal para reconstruir o seu pensamento é o seu Diário, iniciado em 1693: vinte e duas mil páginas manuscritas, que abrangem um arco de trinta e quatro anos de vida claustral. A escrita flui espontânea e contínua, não há cancelamentos ou correcções, nem sinais de pontuação ou distribuição da matéria em capítulos ou partes, segundo um desígnio previamente estabelecido. Verónica não queria compor uma obra literária; aliás, foi obrigada a escrever as suas experiências pelo Padre Girolamo Bastianelli, religioso dos Filippini, de acordo com o Bispo diocesano Antonio Eustachi.

Santa Verónica tem uma espiritualidade acentuadamente cristológico-esponsal: é a experiência de ser amada por Cristo, Esposo fiel e sincero, e querer corresponder com um amor cada vez mais comprometido e apaixonado. Nela, tudo é interpretado em chave de amor, e isto infunde-lhe uma profunda serenidade. Tudo é vivido em união com Cristo, por amor a Ele, e com a alegria de poder demonstrar-lhe todo o amor de que a criatura é capaz.

O Cristo ao qual Verónica está profundamente unida é aquele que sofre na paixão, morte e ressurreição; é Jesus no gesto de se imolar ao Pai para nos salvar. É desta experiência que deriva também o amor intenso e sofredor pela Igreja, na dúplice forma da oração e da oferenda. A Santa vive nesta perspectiva: reza, sofre e procura a «santa pobreza» como «expropriação», perda de si (cf. ibid., III, 523), precisamente para ser como Cristo, que se entregou inteiramente a si mesmo.

Em cada página dos seus escritos, Verónica recomenda alguém ao Senhor, corroborando as suas preces de intercessão com a oferta de si em cada sofrimento. O seu amor dilata-se a todas «as necessidades da Santa Igreja», vivendo com ansiedade o desejo da salvação de «todo o universo» (Ibid., III-IV, passim). Verónica clama: «Ó pecadores, ó pecadoras... todos e todas, ide ao Coração de Jesus; ide à lavanda do seu preciosíssimo Sangue... Ele espera-vos com os braços abertos para vos abraçar» (Ibid., II, 16-17). Animada por uma caridade fervorosa, ela presta atenção, compreensão e perdão às irmãs do mosteiro; oferece as suas orações e os seus sacrifícios pelo Papa, pelo seu bispo, pelos sacerdotes e por todas as pessoas necessitadas, inclusive pelas almas do purgatório. Resume a sua missão contemplativa com estas palavras: «Não podemos ir pregando pelo mundo, para converter as almas, mas somos obrigadas a rezar incessantemente por todas aquelas almas que ofendem a Deus... de modo particular com os nossos sofrimentos, ou seja, com um princípio de vida crucificada» (Ibid., IV, 877). A nossa Santa concebe esta missão como um «estar no meio», entre os homens e Deus, entre os pecadores e Cristo crucificado.

Verónica vive de modo profundo a participação no amor sofredor de Jesus, convicta de que o «sofrer com alegria» é a «chave do amor» (cf. ibid., I, 299.417; III, 330.303.871; IV, 192). Ela evidencia que Jesus padece pelos pecados dos homens, mas também pelos sofrimentos que os seus servos fiéis tiveram que suportar ao longo dos séculos, no tempo da Igreja, precisamente mediante a sua fé sólida e coerente. Ela escreve: «O seu Pai eterno fez-lhe ver e sentir, nessa altura, todos os padecimentos que deviam suportar os seus eleitos, as suas almas mais amadas, ou seja, aquelas que teriam beneficiado do seu Sangue e de todos os seus sofrimentos» (Ibid., II, 170). Como diz de si o Apóstolo Paulo: «Agora alegro-me nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, pelo seu corpo que é a Igreja» (Cl 1, 24). Verónica chega a pedir a Jesus para ser crucificada com Ele: «Num instante — escreve — vi sair das suas santíssimas chagas cinco raios resplandecentes; e todos vieram ao meu redor. E eu via estes raios tornar-se como que pequenas chamas. Em quatro delas havia os pregos; e numa a lança, como que de ouro, inteiramente abrasada: e trespassou-me o coração, de um lado para o outro... e os pregos trespassaram-me as mãos e os pés. Senti uma grande dor; mas, na mesma dor, eu via-me a mim mesma, sentia-me inteiramente transformada em Deus» (Diário, I, 897).

A Santa está convencida de participar antecipadamente no Reino de Deus mas, ao mesmo tempo, invoca todos os Santos da Pátria bem-aventurada para que venham em sua ajuda no caminho terreno da sua doação, à espera da bem-aventurança eterna; esta é a aspiração constante da sua vida (cf. ibid., II, 909; V, 246). Em relação à pregação dessa época, centrada não raro na «salvação da própria alma» em termos individuais, Verónica mostra um forte sentido «solidário», de comunhão com todos os irmãos e irmãs, caminho rumo ao Céu, e vive, reza e sofre por todos. As realidades penúltimas, terrenas, ao contrário, embora sejam apreciadas em sentido franciscano como um dom do Criador, são sempre relativas, inteiramente subordinadas ao «gosto» de Deus e sob o sinal de uma pobreza radical. Na communio sanctorum, ela esclarece a sua doação eclesial, assim como a relação entre a Igreja peregrina e a Igreja celeste. «Todos os Santos — escreve — estão lá em cima mediante os méritos e a paixão de Jesus; mas para tudo quanto nosso Senhor realizou, eles cooperaram, de tal modo que a sua vida foi inteiramente ordenada, regulada pelas (suas) mesmas obras» (Ibid., III, 203).

Nos escritos de Verónica encontramos muitas citações bíblicas, às vezes de modo indirecto, mas sempre claras: ela revela familiaridade com o Texto sagrado, do qual se nutre a sua experiência espiritual. Além disso, há que revelar que os momentos fortes da experiência mística de Verónica nunca estão separados dos acontecimentos salvíficos, celebrados na liturgia, onde ocupam um lugar particular a proclamação e a escuta da Palavra de Deus. Portanto, a Sagrada Escritura ilumina, purifica e confirma a experiência de Verónica, tornando-a eclesial. Mas por outro lado, precisamente a sua experiência, alicerçada na Sagrada Escritura com uma intensidade excepcional, guia a uma leitura mais profunda e «espiritual» do mesmo Texto, entra na profundidade escondida do texto. Ela não só se exprime com as palavras da Sagrada Escritura, mas também vive realmente destas palavras, que nela se tornam vivas.

Por exemplo, a nossa Santa cita com frequência a expressão do Apóstolo Paulo: «Se Deus é por nós, quem será contra nós?» (Rm 8, 31; cf. Diário, I, 714; II, 116.1021; III, 48). Nela, a assimilação deste texto paulino, esta sua grande confiança e profunda alegria tornam-se um acontecimento completo na sua própria pessoa: «A minha alma — escreve — foi unida à vontade divina, e eu estabeleci-me verdadeiramente e fixei-me para sempre na vontade de Deus. Parecia que nunca mais me iria afastar desta vontade de Deus, e voltei a mim com estas palavras específicas: nada me poderá separar da vontade de Deus, nem angústias, nem penas, nem dificuldades, nem desprezos, nem tentações, nem criaturas, nem demónios, nem obscuridades, nem sequer a própria morte, porque na vida e na morte, desejo inteiramente, e em tudo, a vontade de Deus» (Diário, IV, 272). Assim, temos também a certeza de que a morte não é a última palavra, estamos fixos na vontade de Deus e assim, realmente, na vida para sempre.

Verónica revela-se, em particular, uma testemunha corajosa da beleza e do poder do Amor divino, que a atrai, permeia e inflama. É o Amor crucificado que se imprimiu na sua carne, como na de São Francisco de Assis, com os estigmas de Jesus. «Minha esposa — sussurrava-me Cristo crucificado — são-me preciosas as penitências que fazes por aqueles que estão em desgraça diante de mim... Depois, tirando um braço da cruz, fez-me sinal que me aproximasse do seu lado... E encontrei-me nos braços do Crucificado. Não posso descrever aquilo que senti naquele momento: queria estar sempre no santíssimo lado» (Ibid., I, 37). É também uma imagem do seu caminho espiritual, da sua vida interior: estar no abraço do Crucificado e assim permanecer no amor de Cristo pelos outros. Também com a Virgem Maria, Verónica vive uma relação de profunda intimidade, testemunhada pelas palavras que um dia ouve Nossa Senhora dizer, e que ela cita no seu Diário: «Fiz-te repousar no meu seio, recebeste a união à minha alma e por ela, como que em voo, foste levada diante de Deus» (IV, 901).

Santa Verónica Juliani convida-nos a fazer crescer, na nossa vida cristã, a união com o Senhor no ser pelos outros, abandonando-nos à sua vontade com confiança completa e total, e a união com a Igreja, Esposa de Cristo; convida-nos a participar no amor sofredor de Jesus crucificado pela salvação de todos os pecadores; convida-nos a manter o olhar fixo no Paraíso, meta do nosso caminho terreno, onde viveremos juntamente com muitos irmãos e irmãs a alegria da plena comunhão com Deus; convida-nos a nutrir-nos quotidianamente da Palavra de Deus para aquecer o nosso coração e orientar a nossa vida. As últimas palavras da Santa podem considerar-se a síntese da sua apaixonada experiência mística: «Encontrei o Amor, o Amor deixou-se ver!».

Bento XVI : Audiência geral da quarta-feira 15 de Dezembro de 2010.