sábado, 15 de janeiro de 2011

DIRECÇÃO ESPIRITUAL II

SOBRE A OBEDIÊNCIA

No primeiro artigo sobre direcção espiritual foi apresentado um texto do célebre livro “Imitação de Jesus Cristo”, livro que “cada um de nós deveríamos ter em cima da mesa de cabeceira”, como alguém disse, não para ocupar lugar, mas para ser lido.

O texto apresentado tratava da obediência, não de uma obediência cega ou masochista, mas aquela que permite progredir no caminho da perfeição. Todavia nem sempre é fácil obedecer, nem sempre é fácil se deixar admoestar por outrem, fosse este o maior doutor de ascética e mística, porque cada um de nós está sujeito a um inimigo feroz: o nosso Ego. Eis a razão porque no dito texto podemos ler: “Mas porque ainda te amas desordenadamente, por isso te repugna sujeitar-te de todo à vontade dos outros”.

Um dos maiores escritores sobre ascética e mística, foi sem dúvida o sacerdote francês Adolfo Tanquerey, cujo “Compêndio de ascética e mística” foi utilizado, antes do Concilio Vaticano II, em quase todos os seminários do mundo, diz que “um acto de obediência aos Superiores feito por um duplo motivo, por respeito pela autoridade, e ao mesmo tempo por amor de Deus que eles representam, terá um duplo mérito: o da obediência e o da caridade”. (§ 240-1)

Mas não é tudo, porque, diz o mesmo autor, “um acto de obediência e de humildade, a mais do valor próprio, recebe da caridade um valor muito maior, quando feito para agradar a Deus, porque assim se torna um acto de amor, quer dizer um acto da mais perfeita de todas as virtudes. Acrescentemos que este acto se torna mais fácil e mais atractivo: obedecer e humilhar-se custa muito à nossa natureza orgulhosa, mas ter consciência que praticando estes actos amamos Deus e procuramos a Sua glória, facilita-os singularmente.

Assim pois a caridade é não somente a síntese, mas a alma de todas as virtudes: ela une-nos a Deus de uma maneira mais perfeita e mais directa do que todas as outras; é portanto ela que constitui a essência mesmo de perfeição”. (§ 319-b)

Nunca pretendi ser “especialista” em direcção espiritual, nem teólogo: nada mais sou do que um “biscateiro” que procura ajudar naquilo que pode e onde pensa ter alguma utilidade. Se falo de direcção espiritual é porque é matéria que me interessa e porque me interessa procuro partilhar “com lealdade” e amor os poucos conhecimentos que possa ter. Se eles servirem a alguém, tanto melhor. Se algo disser que não seja justo, penso que aqui neste meio de comunicação existem numerosos sacerdotes, mais doutos do que eu, que poderão corrigir ou alertar para qualquer erro que eu possa cometer. A vida ensinou-me a ouvir os outros e a aceitar com humildade o que me dizem, mesmo quando isso magoa o meu pior inimigo: o amor-próprio.

Tomo, como se para mim fosse escrito, este conselho do Padre Tanquerey:

“Fazer progressos na obediência, é ao mesmo tempo fazer acto de humildade, de mortificação e de espírito de fé; é ao mesmo tempo adquirir a humildade e pela mesma ocasião se aperfeiçoar na obediência, no amor de Deus, na caridade, sendo o orgulho o obstáculo principal na prática destas virtudes”. (Padre Adolfo Tanquerey: “Compêndio de Ascética e Mística” § 468-b).

“Melhor é obedecer a Deus do que aos homens”, é uma verdade incontestável que não sofre qualquer contestação. Todavia, em matéria espiritual, ou melhor na direcção espiritual, existe uma alternativa muito particular, como podemos ver nas cartas da Beata Alexandrina ao seu Primeiro Director espiritual, que seguir transcrevo:

“Disse-me o meu amado Jesus que será Ele o meu Director e o meu Mestre contínuo, frequente, habitual, e V.R. lá de longe; mas que tenho que lhe obedecer primeiro do que a Ele”.

Ora, antes da beatificação, os escritos da Beata Alexandrina foram controlados por sete teólogos romanos e nenhum deles levantou qualquer protesto contra o que acabamos de ler, simplesmente porque assim é.

Tão estranho que possa parecer, esta é uma regra constante na direcção espiritual e comum aos Santos que beneficiaram de comunicações celestes, e cujos escritos podemos ler, tais como Santa Teresa de Ávila ou, mais perto de nós, Santo (Padre) Pio de Pietrelcina... e a Beata Alexandrina.
Afonso Rocha

Sem comentários:

Enviar um comentário