Alexandrina de Balasar
O sacerdote dominicano, Reginaldo Garrigou-Lagrange, bem conhecido dos estudiosos de ascética e mística, escreveu par os “Estudos Carmelitanos” de Outubro de 1932 — ano em que a Beata Alexandrina viveu as suas primeiras experiências místicas — um importante artigo intitulado: «A noite do espírito reparadora em São Paulo da Cruz». Ele aí traça de mão de mestre as etapas místicas do Santo fundador da Congregação dos Passionistas.
Logo no princípio do seu artigo, o famoso autor afirma:
«Certas vidas de grandes servos de Deus particularmente dedicados à reparação, ou à imolação para a salvação das almas ou ao apostolado pelo sofrimento interior, fazem pensar contudo à uma prolongação da noite do espírito mesmo após a entrada na união transformante. Mas então esta prova não seria mais sobretudo “purificadora”, seria sobretudo “reparadora”.»
Esta “sentença” aplica-se perfeitamente à vida e à missão da Beata Alexandrina de Balasar, cuja vida, mesmo depois da vivência da tão difícil e torturante noite escura do espírito, continuou a viver esta, já não sob a forma “purificadora”, mas sob a forma “reparadora”: sofrer a “imolação para a salvação das almas”.
A noite escura do espírito que a Alexandrina já vivera, «é um purgatório antes da morte, mas um purgatório onde a alma merece e onde o seu amor cresce muito», explica ainda, de maneira sintética, o mesmo conceituado autor.
Mais ainda: «esta obscuridade e as angústias que se provam fazem lugar à luz superior e a alegria da união transformante, prelúdio imediato da vida do céu».
E agora, quase de maneira poética o mesmo autor esclarece ainda: « O inverno da noite do espírito parece seguido de uma primavera e um verão perpétuo, após o qual não haveria mais Outono ».
E, como para assentar as afirmações que avança, ele faz depois apelo ao mestre por excelência da teologia mística: São João da Cruz:
«Tal é a impressão que dá a leitura da “Noite Escura” e “Viva Chama de Amor”. Dir-se-ia que a noite do espírito é para as almas avançadas apenas um túnel a atravessar antes de entrar na união transformante e que a alma não terá seguidamente mais a atravessá-lo de novo».
Mas, na vida espiritual da Beata Alexandrina, não é bem assim: ou seja que o “túnel” parece não ter fim ou então ela teve de atravessar diversos desses “túneis”, alguns mais longos do que outros, mas todos destinados, como nos vai explicar o Padre Garrigou-Lagrange:
«Certas vidas de grandes servos de Deus particularmente dedicados à reparação, ou à imolação para a salvação das almas ou ao apostolado pelo sofrimento interior, fazem pensar contudo à uma prolongação da noite do espírito mesmo após a entrada na união transformante. Mas então esta prova não seria mais sobretudo purificadora, seria sobretudo reparadora.»
Aqui está a explicação adequada ao caso da Beata Alexandrina: o seu “sofrimento interior” é pois “dedicado à salvação das almas”, e por isso mesmo um prolongamento da “noite do espírito”, mas agora não “purificador” mas bem “reparador”.
Veja-se o que ela nos diz no seu “Diário”, “Sentimentos da alma” de 6 de Março de 1942:
«As negras trevas da noite não podem jamais terminar para mim; não vejo o caminho, não posso seguir nem voltar para trás; não tenho guia, não tenho vida. Sinto o coração e a alma a despedaçarem-se em bocadinhos».
Um mês mais tarde, de novo ela se queixa:
«Sinto a alma como se fosse um corpo preso de mãos e pés, mas toda escuridão e onde não penetra a mais pequenina luz e onde não pode entrar a mais pequenina ponta de ar. Abandonou-me o Céu e a terra». (Sentimentos da alma; 3 de Abril de 1942).
Afonso Rocha
SEGUE
Sem comentários:
Enviar um comentário